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Relatório das Expedições II Parte
26 jun
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Relatório das Expedições II Parte

Relatório das Expedições II Parte

Arqueoastronomia em Santa Catarina

Instituto Multidisciplinar de Meio Ambiente e Arqueoastronomia – IMMA & Voa Mamangava

por Adnir Ramos

Foram realizadas sete expedições para acompanhar o movimento do sol em sua passagem pelo Trópico de Capricórnio em Sítios Arqueoastronômicos em Santa Catarina.

  • 15/12 – Origem da Vida | Ilha de Porto Belo

Participantes: Rafael Pessi, Luciana Mara Silva, Sonia Maria Paciulli Raffa, MarceloVitor Garcia, Silvana Aparecida Ferreira,Denise de Paulo Matias, Monique Inocencio, Gabriel Pereira, Eberhardt, Giseli Strapasson Bechelli, Sara Maria Eufrázio, André de Souza, Felipe Alves de Sá, Carolina Buzzo Bechelli, Santiago Silva, Daniela Maria Pinto Rossetto,  Yu Tao, Tais Sampaio, Vera Zanoni, Adnir Antonio Ramos, Juliana Jeremias Capistrano e Zinder Orion Capistrano.

Essa primeira expedição aconteceu na Ilha de Porto Belo, município de Porto Belo, com a finalidade de observar o movimento aparente do sol no sítio de arte rupestre e em seu entorno.

Antes do nascer do sol, nos reunimos no  pier turístico da cidade de Porto Belo, Juliana e Zinder, já haviam organizado todos os tramites com o barqueiro e com o guia da Ilha, Ricardo Vieira Alves. Acompanhando o nascer do sol pela costa e retornamos navegando contornado a ilha. Percebemos possíveis alinhamentos, mas não podemos confirmar, pois requer mais observações. (Figuras 1 e 2) Desembarcamos na ilha e nos dirigimos ao sítio de arte rupestre ali existente, As gravuras rupestres estavam muito nítidas, pois a pedra foi limpa e os liquens e musgos haviam sido removidos, o que nos facilitou  ver uma nova gravura que ainda não havia sido documentada. (Figurara 3). Após uma palestra, com a participação do Dr. Yu Tao, cientista chinês que vem participando das pesquisas arqueoastronômicas, visitamos o Ecomuseu Univale um espaço cultural que atua no resgate e na valorização dos costumes, dos hábitos e da história das comunidades litorâneas de Santa Catarina. (Figura 4)

  • 17/12 – Bibliotecas da Terra | Gravatá

 

Participantes: Sonia Maria Paciulli Raffa, Micheline Carla de Souza,  Luiz Carlos Cela Zolet, Marcelo Vitor Garcia, Vera Zanoni, Adnir Antonio Ramos, Juliana Jeremias Capistrano, Zinder Orion Capistrano.

A expedição – bibliotecas da terra teve a finalidade de acompanhar o nascer do sol do solstício de verão na pedra da canaleta no cume colina da Ponta do Gravata, conhecida como a Cabeça do Dragão e em outros megálitos dos arredores.(Figura 4)

No monólito pedra da canaleta onde o reflexo do sol no mar no solstício de verão se combina com o reflexo da água colocada na canaleta, constatamos que há poucos dias antes pessoas que não conhecem a função dos monumentos megalíticos da ilha de Santa Catarina, fazem fogo em cima deles ou ao lado causando um grande prejuízo, pois o fogo destempera a pedra provocando o lascamento, mudando assim a estrutura da rocha. Infelizmente as faltas de reconhecimento dessas estruturas megalíticas dos órgãos responsáveis pelos sítios arqueológicos fazem com que alguns deles sejam cortados e outros depredados.

Foi lamentável ver que as pedras foram furadas para colocar grampos de fixação para escaladas e dentro da canaleta foi feito uma fogueira. (Figura 5)

Registramos o reflexo do sol na canaleta alinhado com o Gnomo na direção do solstício de Verão. (Figura 6 e 7)

Também tivemos o privilégio de ver o sol nascer na linha do horizonte e confirmar o alinhamento com o megálito quadrado na ponta leste a partir de uma plataforma onde há um ponto estratégico para ver o alinhamento como descrito no vídeo Arqueoastronomia na Ponta do Gravatá, link https://www.youtube.com/watch?v=CFfwQ3er7zU&t=1s (Figura 8 e 9)

Ao lado do monólito que marca o sol no horizonte há um dólmen voltado para leste que também registra o sol nessa estação. (Figura 10)

Passamos pelo observatório do meio dia solar e pelo dólmen do por do sol (Figura 11)

 

 

 

  • 18/12 – Bibliotecas da Terra | Santinho

Participante: Elaine Italia Chiocchetta, Maria Lucia Mendes Gobbi, Bruna Rafaella Lopes, Micheline Carla de Souza, Luiz Carlos Cela Zolet, Paulo Stekel, Tais Sampaio, Adnir Antonio Ramos, Juliana Jeremias Capistrano, Zinder Orion Capistrano.

Nessa biblioteca tínhamos o propósito de documentar o alinhamento do sol no solstício de verão e visitar as gravuras rupestres, porém o dia estava nublado, e nos impediu de fazer um registro detalhado do alinhamento. (Figura 12 e 13) Contamos com a presença do pesquisador Paulo Stekel, que conversou com o grupo acerca de suas pesquisas e intenção de escrever um livro sobre a arte rupestre do litoral catarinense. (Figura 14) Maria Lucia Gobbi, arquiteta e membro da Associação dos Arquitetos de Santa Catarina – AeBEA/SC notou a precariedade da trilha e de imediato mobilizou o grupo de trabalho dos associados a atuarem com responsabilidades  nos projetos arquitetônicos, pensando na paisagem e nas trilhas de Santa Catarina. (Figura 15) Também visitamos as gravuras rupestres da região a titulo de reconhecimento. (figura 16).

  • 19/12 – Ciclo da Fertilidade | Barra da Lagoa

Participantes: Elaine Italia Chiocchetta, Micheline Carla de Souza, Luiz Carlos Cela Zolet, Juan Ganzo Katia de Jesus Wermelinger, Maria Angélica Abramo, Marcele Novak Stimamiglio, Yu Tao, Alessandra Gaboardi, Adnir Antonio Ramos, Juliana Jeremias Capistrano, Zinder Orion Capistrano.

Essa atividade foi realizada na trilha da oração, onde está o sítio Arqueoastronômico Pedra Virada, sobre este sítio já foi publicado um relatório em: https://arqueoastronomia.com.br/noticias/relatorio-das-expedicoes-cientifica-parte-i

No entanto, tivemos o privilégio de ver o sol nascer em uma pequena faixa do céu sem nuvens  na linha do horizonte apartir do dólmen da Oração, mostrando a relação deste com a Ilha do Xavier, uma ilha adjacente a Ilha de Santa Catarina. (Figura 17).

Na ocasião contamos com a participação do Dr. Yu Tao que relacionou o festival do Tanabata Matsuri, um festival bastante popular no Japão e na China, com o ciclo da fertilidade no solstício de verão aqui hemisfério sul. Esse festival acontece dia 7 de julho, um período próximo a metade do verão no hemisfério norte, quando os pássaros dão as asas e formam uma ponte para que Altair possa atravessar e encontrar Vega, que está do outro lado do Rio. A estrela Altair da constelação da Águia representa o vaqueiro, e a estrela Vega da constelação da Lira representa a filha do imperador. O rio representa a Via Láctea que representa a maldição do Imperador afim de afastar a filha do vaqueiro que são apaixonados um pelo outro. Na verdade esse mito mostra a relação dos astros com o ciclo da fertilidade na terra. Ou seja, quando as estrelas Altair e Vega começavam a nascer no horizonte no amanhecer estava chegando o período da fecundidade onde eram feitos os rituais de miscigenação da espécie. (Figura 18). Também tivemos o privilégio de contar com a presença da professora da pós do Sagrado Feminino, na faculdade Espírita de Curitiba, Marcele Novaktes Stimamiglio. (Figura 19).

 

  • 20 e 21/12 – Homem do Sambaqui | Laguna

 

Mariana Alba, Tais Sampaio, Denise de Paulo Matias, Monique Inocêncio, Marcelo Vitor Garcia, Adnir Antonio Ramos, Juliana Jeremias Capistrano, Zinder Orion Capistrano

Nosso destino inicial foi a Pedra do Frade localizada no costão que separa a praia do Gi e a praia do Sol em Laguna, Santa Catarina. O objetivo foi verificar o ponto exato para acompanhar o nascer do sol em relação à Pedra do Frade. Chegamos antes de o sol nascer e cada participante da expedição se posicionou onde mais lhe chamou a atenção, eu logo percebi que o ponto para marcar o alinhamento do nascer do sol não estava ali próximo ao Gnomo, então contornei o costão rochoso no sentido noroeste até que cheguei a um ponto onde pude avistar a Pedra do Frade e a linha do horizonte no mar. O acesso extremamente difícil e perigoso, pois além de cactos e bromélias, o costão molhado do orvalho e salitre do mar fica muito liso, sujeito a acidentes. De qualquer forma fui buscando o ponto para ver onde os construtores de monumentos megalíticos marcaram o solstício de verão. Foi então que encontrei um ponto na escarpa de um rochedo, onde o observador consegue ver o Monólito Pedra do Frade com a incrível precisão de ver o bloco colocado no topo dela na linha do horizonte e na direção do nascente do sol no dia do solstício de Verão. O mais interessante que o ponto onde o observador deve se posicionar para assistir o evento é outro gigantesco bloco granítico que tem uma espécie de cabaça esculpida separada pelo pescoço, e é exatamente nesse aclive atrás da cabeça que o observador precisa se posicionar. Uma cavidade ao lado oeste do pescoço possibilita ao observador se apoiar para acompanhar o nascer do sol rente com ao pescoço e o bloco que esta em cima da Pedra do Frade, incrivelmente separando um bloco do outro bem na linha do horizonte. Não sabemos se a rocha foi escavada para produzir tal efeito ou se a Pedra do Frade foi movida para ajustar o ângulo do observador. A distância  do ponto de observação à pedra do Frade é de 182 metros na direção solsticial de 116 graus 54 min 07 seg.(Figuras 20, 21 e 22).

Enquanto a equipe foi fazendo suas próprias observações Zinder fez filmagem com drone de vários ângulos. Passamos a manhã toda ali registrando o comportamento da sombra projetada pelo gnomo Pedra do Frade. (Figura 23,). Já tinhamos algumas fotos do pôr-do-sol de novembro do ano. (Figuras – 23.1 e 23.2). Ao meio dia solar veio a surpresa: a sombra do Menir ficou perpendicular tanto no lado sul com no lado norte, mostrando com isso que a Pedra do Frade foi intencionalmente inclinada para o zênite do solstício de verão. (Figura 24, 24.1 e 24.2).

 

Dali partimos para a Praia do Ipuã, ao lado do Cabo de Santa Marta com o objetivo de visitar um grande jardim de rochas  naturais e algumas sobrepostas a outras. Nas proximidades existiu um dos maiores sambaqui do mundo, o conhecido Elefante Branco, destruído em um ano e oito meses por uma mineradora de Esteio no Rio Grande do Sul. O visinho do Sambaqui e proprietário das terras me informou que alguns moradores acreditavam que o sambaqui tinha mais de 120 metros de altura, comparando-se a altura do morro da Glória em Laguna, os arqueólogos calculam até 88 metros de altura, hoje é conhecido como Sambaqui da Carniça, na comunidade Monte Verde. Está cadastrado como “LAGUNA 5. Sambaqui da Carniça 88 Era este um dos maiores, senão o maior sambaqui de que se tem notícia: É o famoso “Elefante Branco”. Com uma base de uns 400 metros e 70 metros de largura, elevava-se a 30 metros de altura. Durante muitos anos foi explorado por particulares no fabrico da cal. Ocorreu inclusive um homicídio, decorrente do desentendimento quanto a direitos de propriedade do sambaqui. Arqueólogos da Universidade Federal de Santa Catarina, orientados pelo americano Wesley Hurt, fizeram pesquisas científicas no sambaqui. Pelos anos de 1970, instalou-se sobre o sambaqui poderosa indústria de calcário, a qual, diariamente, carregava 25 a 30 caminhões jamanta de farinha de conchas do Sambaqui da Carniça, para as arrozeiras do Rio Grande do Sul e, em questão de dois anos, deixou o sambaqui, praticamente arrasado. Em fins de 1972, porém, uma comissão composta de elementos da Polícia Federal, do 105 Departamento Nacional de Produção Mineral e do representante do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional para Arqueologia em Santa Catarina, fechou aquela indústria clandestina. recolhendo caminhões e tratores para a Capitania dos Portos de Laguna. A destruição criminosa e leviana do sambaqui da Carniça, provocou protestos em reuniões científicas internacionais, que tiveram lugar na cidade de São Paulo. Hoje resta do sambaqui da Carniça I. a base com uma altura de uns cinco metros. (1975). https://leiaufsc.files.wordpress.com/2013/03/2-2a-rohr-j-a-sc3adtios-arqueolc3b3gicos-de-santa-catarina.pdf

 

Ali, na praia do Ipuã localiza-se o Sambaqui Morro da Roseta e no seu entorno muitos megálitos em forma de menires e dolmens. No fim da tarde após enfrentarmos uma forte chuva de trovoada na travessia da balsa, fizemos uma visita de reconhecimento no promontório que forma o costão da praia do Ipuã e praia da Tereza. Fotografamos e meditamos sobre como foram organizados aqueles megálitos daquela região, sendo a erosão muito constante no mencionado promontório, ainda assim, muitos megálitos desafiam o processo natural de acomodação dos blocos graníticos. (Figuras 25, 25.1, 26, 27, 28 e 29)

 

LAGUNA 21. Sambaqui da Galheta III ou da Roseta. Sambaqui situado a nordeste dos dois anteriores, em meio às dunas, a uns 100 metros da praia. Possui uns 100 x 80 x 12 metros e acha-se ainda intacto. É sambaqui típico, com muito pouca vegetação. (1976). (Figura 30)

https://leiaufsc.files.wordpress.com/2013/03/2-2a-rohr-j-a-sc3adtios-arqueolc3b3gicos-de-santa-catarina.pdf

Fomos preparados para acampar na beira da praia para ver o nascer do sol ali na região onde ao lado sul do Sambaqui da Roseta há um grande Bloco granítico apoiado sobre três bases de outro bloco fendido em três partes. A chuva de verão não nos permitiu armar as barracas na praia e ainda o carro ficou preso na entrada da praia de acesso a estrada. Enquanto isso uma parte da equipe foi buscar abrigo da chuva e encontrou uma varanda de uma casa onde após a retirada do carro nos instalamos. Uma pessoa da localidade veio ao nosso encontro saber o que estava acontecendo e após telefonar para o proprietário informando de nossa presença ali, permitiu que pernoitássemos ali em nossas barracas.(Figura 31)

Na manhã seguinte, 21/12/2018, dia em que o disco solar chegou ao trópico de Câncer, solstício de verão, para nós no hemisfério sul. No clarear do dia  documentar o nascer do sol no mencionado bloco ao sul do sambaqui da Roseta foi revelador. Trata-se de um grande bloco de rocha de granito de aproximadamente 6,5 metros de altura por 12 metros de diâmetro, formando uma pequena gruta embaixo do dólmen. O lugar é conhecido como oratório, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida foi colocada no lado nordeste do monumento. Geralmente algumas pessoas desinformadas acampam nas proximidades e fazem fogueira dentro da gruta, o que está causando um prejuízo patrimonial, pois grandes lascas estão se desprendendo da

 

rocha base e suporte do gigantesco dólmen.

Pela primeira vez tivemos a oportunidade de documentar o solstício de Verão nesse complexo megalítico e descobrimos que ele serve para marcar precisamente o levante do sol no solstício de verão, de forma que o sol se enquadra dentro de uma das fendas passando por um orifício embaixo do dólmen. Foi um golpe de sorte ou de ajuda dos arquitetos ancestrais, pois apesar da tempestade do dia anterior e que perdurou quase toda a noite, o sol apareceu no horizonte nos permitindo o registro e a confirmação do que suspeitávamos. ( Figura 32, 33, 34 e 34.1)

Do Ipuã nos dirigimos para o Farol de Santa Marta; onde apresentei para a equipe de novos pesquisadores os monumentos megalíticos daquele Cabo. Durante esses anos de pesquisa e pesca freqüentei muito o Cabo de Santa Marta por ser um lugar piscoso e favorecer a caça submarina. Conheci vários moradores que colecionavam artefatos líticos encontrados em sambaqui dos arredores, também documentei um menir em pé, depois deitado, e por último, cortado em pedaços para construção de um muro. Espalhados na orla do cabo de Santa Marta alguns dos megálitos se destacam e chamam a atenção dos moradores que chegam a suspeitar de uma chuva de pedras que as colocou em cima uma das outras encaixadas. Já documentei alguns eventos de solstícios e equinócios, mas é necessário um estudo mais detalhado.

(Figuras 35 a 44)

 

A tarde nos dirigimos para Jaguaruna, onde visitamos e fizemos fotos e filmagens com drone do Sambaqui da Garopaba.

Sambaqui situado a dois quilômetros da Lagoa da Garopaba e algo mais 400 metros da praia, em meio às dunas. É um dos maiores sambaquis, de que se tem notícia, com 200 x 100 x 30 metros; mas foi vandalizado e irracionalmente explorado por fabricantes de cal e para a compactação de estradas. Diversas vezes, por ensejo de nossas vistorias, encontramos dezenas de operários, assalariados com salários de fome, ocupados na destruição do sambaqui. Os fatos foram, cada vez, denunciados à justiça federal. Ainda em 1980 foram surpreendidos e fotografados caminhões e retroescavadeiras da prefeitura municipal de Jaguaruna ocupados no desmonte do sambaqui de Garopaba. (1967). (Figura 45 e 45.1)

Seguimos para o Sertão dos Corrêas para visitar a Pedra do Equilíbrio o lugar e a trilha foi abandonada após a retirada de aterro para pavimentação da BR 101 e estradas adjacentes, também foi feito uma floresta de eucaliptos e pastagem de gado, não conseguimos chegar ao monólito porque a trilha estava muito fechada de capoeira. Partes da equipe retornaram para Florianópolis. Informam-nos que próximo dali havia a gruta da Tereza, onde acontece algumas curas. Fomos ao encontro da gruta e a encontramos, Dona Tereza a pessoa que é responsável por conduzir o processo de cura na gruta, não se encontrava no momento, mas um senhor nos autorizou a visitar a gruta que faz parte de um veio de água potável. Nesse momento uma forte chuva de trovoada que vinha nos ameaçando durante o percurso chegou. Apenas deu tempo para retornar para o carro e o vento com chuva parecia querer destruir tudo. Essa trovoada chegou a Florianópolis no fim da tarde e causou muitos danos também. (Figuras 46, 46. 1 e 47)

Nossa missão era chegar ao Hotel Internacional no município de Gravatal, onde eu havia assumido o compromisso de palestrar sobre arqueoastronomia em Santa Catarina. Ao chegar ao hotel nos energizamos nas banheiras de águas termais e palestramos no espaço do Dr. Edson Bonnoto,  microsemiotista irídio, o tema da palestra  a teoria Divino Gênese, onde apresentamos aspectos das gravuras rupestres e dos monumentos megalíticos incluindo os naquele município. (Figuras 48 e 49).

Por fim, três arco-íris decoram a paisagem oeste nos encorajando subir a Serra do Corvo Branco ao anoitecer com destino a Urubici, outro de nossos destinos das expedições de 2018. Chegamos no hotel em Urubici já passava das 23 horas.

 

  • 22 e 23/12 – Explosão de Luz | Urubici

Bruna Rafaella Lopes, Vera Zanoni, Adnir Antonio Ramos, Juliana Jeremias Capistrano

Zinder Orion Capistrano

Bruna e Vera nos esperavam para saber qual era o cronograma da manhã seguinte. Combinamos de nos encontrar no hall do hotel às 5 horas da manhã, para visitar a pedra furada do Morro do Campestre. Muito cansado dormi sem colocar o despertador em alerta para o horário. Atrasados às 5:30 deixamos o hotel em meio a uma densa neblina, que é característica da região. Ao chegar na entrada do Morro do Campestre percebemos que o portão de acesso estava fechado, a aurora em meio a serração, dava um ar bucólico, mas sabíamos que em pouco tempo o sol despontaria em algum topo daquelas montanhas, Eu e Bruna pulamos o portão e enfrentamos os cachorros e os cavalos que vieram em nossa direção, fomos até a casa do caseiro. Enquanto eles acordavam e foram atender os outros companheiros da expedição no portão, eu e Bruna subimos o morro ziguezagueando pela estrada de acesso a pedra furada.

Quase sem fôlego chegamos ao portal e em poucos minutos o sol despontou no horizonte montanhoso e dentro da menor das três janelas da pedra furada. Enquanto lá embaixo a serração transformava a paisagem num rio, em cima, o céu com poucas nuvens transformou o cenário numa bola de cristal, onde víamos o passado revelando-se nas janelas de arenito. Naquele momento estar no passado ou no presente não fazia muita diferença, pois sentíamos únicos. O sol nasce naquele ponto e data faz milhares de anos, mas o registro é seguro.  O astrônomo de qualquer época pode anunciar seguramente: o verão começou. (Figuras 50 à 54).

À medida que o sol foi subindo exploramos outros espaços, e a cada instante uma surpresa, um êxtase ou vislumbre. Na parte a cima das janelas o morro é uma gigantesca passarela, com escarpa de ambos os lados. (Figura 55).

Ao descer para os portais novamente registramos mais alguns pontos iluminados que marcam com precisão o dia mais longo do ano, o ápice da vida. (Figura 56 e 57).

Fizemos algumas saídas com o pesquisador Keler Lucas, que está registrando vários sítios megalíticos e de gravuras rupestres. Fomos ao Morro da Igreja fotografar a Pedra Furada, na Gruta dos Bugres, nas gravuras do Avencal e na cabeça da Águia. (Figuras 58, 59, 60 e 61)

  • 28/12 – Divino Gênese II | Naufragados

Paulo Baltazar da Rosa, Elaine Italia Chiocchetta, Anna Paula Moreira Barbosa, Bruna Rafaella Lopes, Adnir Antonio Ramos, Juliana Jeremias Capistrano, Zinder Orion Capistrano

Retorno a Praia do Farol dos Naufragados, no extremo sul da ilha de Santa Catarina.

No inverno de 2017 havíamos transitado pelas trilhas dos costões da região em busca das gravuras rupestres quando nos deparamos com um dólmen apoiado sobre uma pequena pedra, posteriormente pesquisamos a partir do Google Earth e verificamos um alinhamento entre o menir do costão sueste com o dólmen no costão a noroeste da praia, o qual apontava para o solstício de verão. Organizamos uma expedição no solstício de verão em 2016 e tivemos o privilégio de ver o sol nascer na linha do horizonte, e confirmar o alinhamento. Rafael Giaretta, que participou da expedição nesse dia e fez uma série de fotografias, ele nos comentou que esteve na Itália fazendo uma especialização e um dos módulos era sobre arqueoastronomia, e o professor mencionou os monumentos megalíticos de Florianópolis. Rafael nos contou que ficou surpreso, pois mesmo sendo morador da ilha desconhecia o assunto abordado na aula na Itália. Outra experiência forte que tivemos foi através de Claudia Messores e Sara Maria Eufrázio, que ao tocar no dólmen foi com se elas tocassem em uma poderosa fonte de energias que as fez tremer e estremecer, nós que estávamos mais distantes fomos contagiados. No lado esquerdo da praia visitamos uma bela oficina lítica cheia de brunidores ainda bem preservados. (Figuras 62 à 68)

Estar em lugares como esses faz-nos ter a certeza de que a vida inteligente nos conecta independente do tempo e  espaço, da ciência e da espiritualidade, do conhecimento ou do não saber.

Tudo isso nos faz crer que, o que sabemos é pouco diante do que há registrado nos lugares sagrados planeta Terra.

Adnir Ramos
Antropólogo / arqueoastrônomo.
immabrasil@gmail.com
https://arqueoastronomia.com.br/