Atividades

Homenagem ao Professor Alroino Baltazar Eble
9 de outubro de 2020 -
para saber mais entre em contato com a professora Giselle Guilhon, fone (48) 996231310

Homenagem ao Professor Alroino Baltazar Eble

 Amigas e Amigos, nós do Instituto Multidisciplinar de Meio Ambiente e Arqueoastronomia – IMMA, em parceria com a professora Giselle Guilhon (UFPA), estamos iniciando uma série  de ações destinadas a trazer para a biblioteca do IMMA, e manter reunido, o acervo de livros de Arqueologia que pertencia ao arqueólogo e professor de Antropologia da UFSC, Alroino Baltazar Eble. Nosso objetivo, além de homenagear esse importante pesquisador catarinense, é arrecadar fundos para a aquisição dos livros, que são de propriedade da família. O acervo, avaliado em 10 mil reais, inclui títulos de referência mundial e várias obras raras, muitas delas autografadas por seus autores. Os livros ficarão à disposição de todos na biblioteca do IMMA! Participe!

 

Alroino Balthazar Eble (1945-1990) nasceu em Rio do Sul (SC), mudando-se aos onze anos para Blumenau, onde criou raízes. Mal termina a Graduação na UFSC, em 1969, inicia uma pós-graduação em Antropologia na Pensylvania State University, onde permaneceu por um ano. Ingressa como professor da UFSC em março de 1971, optando por fazer carreira na Arqueologia. Daí para frente, desenvolve diversas atividades acadêmicas, algumas delas em parceria com outros colegas da UFSC. Em 1972, visita os Museus Antropológicos do Rio Grande do Sul, realizando, no mesmo ano, levantamentos de sítios arqueológicos no Alto Vale do Itajaí (SC). Inicia, em 1973, o Mestrado na USP, realizando, três anos depois (em 1976) pesquisa de campo em sítios arqueológicos da região da Serra do Tabuleiro (SC). Sua área preferencial de pesquisa era, todavia, o Vale do Itajaí, de modo que publicou, sobretudo nos Anais do Museu de Antropologia da UFSC, diversos artigos sobre a arqueologia da região. Sua trajetória acadêmica incluiu uma curta viagem de estudos a Paris, a direção (período de 1975 a 1976) do então Museu Universitário – MU, hoje Museu de Arqueologia e Etnologia – MArquE, da UFSC, e sua longa atuação como professor, lecionando disciplinas de Antropologia para alunos de diferentes cursos, tais como Ciências Sociais, História, Psicologia e Medicina. Proferiu, ainda, inúmeras palestras e ministrou diversos cursos extra-curriculares. No final dos anos 1970, abandona a Arqueologia e passa a se dedicar aos estudos de Linguagem e Semiótica, publicando alguns artigos sobre o assunto. Seguem alguns depoimentos de amigos e colegas que conviveram com o Eble:

 

“Professor Eble, como gostava de ser chamado, era um cientista/erudito, de espírito jovem, polêmico e desafiador. Foi um privilégio conviver com semelhante espírito de luz.” Gelci José Coelho “Peninha” (museólogo)

 

“Comentava-se que ingressara em nosso curso de História, um ‘rapaz de Blumenau’ que fazia furor entre os colegas, provocando, também, inquietação e até irritação em alguns professores, satisfação em outros, pelo seu indiscutível preparo intelectual, pela ousadia e irreverência com que expunha suas idéias. Era bem informado em várias áreas de conhecimento além da História; um pouco ao estilo dos ‘naturalistas’ do século XIX. Aventurava-se, ainda, na literatura, tendo publicado uma coletânea de poesias que escrevera aos 19 anos de idade. Sua grande paixão, no entanto, já era a Arqueologia.”  Maria José dos Reis (antropóloga)

 

Leia, também: “Memórias sobre Alroíno B. Eble”, escrita por Alberto Philippi May (psicanalista), que conviveu proximamente, e por vários anos, com Eble e sua família:

 

Memórias sobre Alroíno B. Eble

Alberto Philippi May

 

Conheci Eble em 1977, através de amigos que eram, também, seus alunos ou discípulos. Lembro da primeira vez que fui em sua casa, no Bairro Agronônima. Havia uma sala enorme, onde Eble e Janete, sua mulher, recebiam os amigos. Seus três filhos – Günther, Letícia e Samantha –, crianças adoráveis, bonitas e educadas, estavam sempre por ali. Eble e Janete eram muito acolhedores com suas visitas e eu, entre elas, ia me sentindo, com o tempo, “em casa”. Havia sempre, nas noites de sexta, ou sábado, ótima música, vinhos, petiscos saborosos, preparados por Janete, e ótimas conversas, especialmente as questões que Eble trazia, que nos falava. Nós, cada qual à sua maneira, participávamos! Era uma turma muito opiniática! Eble gostava disso, de interlocutores! Era tudo muito animado! Eble era um anfitrião que nos encantava com sua cultura e elegância, com a maneira com que se expressava. Era um homem cultivado, carismático e com um charme muito natural, e às vezes estudado, como é próprio de homens com estilo. Ele nos falava de coisas muito interessantes, por vezes de forma provocadora, à boa maneira.  Eble sabia construir laços, fazendo com que nos sentíssemos incluídos nessa aventura do descobrimento do saber e das dimensões da cultura. Ele nos fazia pensar! Impossível não se sentir incluído nessa aventura de fruição da cultura e da arte de viver, que Eble tão bem expressava. Leitor apaixonado e atento às questões antigas, mas especialmente aos enigmas contemporâneos. Ao Zeitgeist – o espírito do nosso tempo. Lia Antropologia, Arqueologia, Filosofia, História, Literatura, Poesia, Psicanálise, etc. E nos transmitia de tal maneira a tornar acessível esse saber produzido pelos homens. Para ele, isso não era um exercício de erudição, poder ou exibicionismo, mas fundamentalmente era o próprio desejo de transmitir suas descobertas, suas fruições. Ele falava para interlocutores. Essa “troca” era necessária para Eble, que não gostava de estar só. A cultura, para o mestre Eble, era esse circuito pulsional, desejante, que possibilita a expressão de laços amorosos! Era disso que se tratava para esse nosso personagem! Por exemplo, ele tinha lido o livro de Gilles Deleuze e Felix Guatari, a impactante obra Mil Platôs, ainda em sua versão francesa, na qual os autores se referem aos mil níveis, dimensões, ou interpretações de um mesmo evento ou fenômeno. Dentro de nossas possibilidades de compreensão, ele ia nos trazendo essas ideias e leituras que nos permitiam olhar de uma outra maneira sobre os fatos e fenômenos da vida. Então, muitas vezes, todas essas experiências que tínhamos com as pessoas que iam alí… se dava, muitas vezes, num certo grupo de amigos, discípulos, entre eflúvios de fumaça de várias origens, vinhos e quitutes da Janete! Eram momentos de fruição, nos quais éramos envolvidos por músicas da melhor qualidade. Nessa época, Alroíno, que era professor na UFSC, trabalhava, entre outras coisas, numa pesquisa de fôlego sobre o início da escrita, como a escrita cuneiforme dos acadianos. Essa tese de Eble buscava, se me lembro, pensar a escrita antes da fala ou mostrar o salto civilizatório e cultural dos homens antigos, a partir da escrita. Talvez porque esta fosse o que iria possibilitar a construção de Mil Platôs, suponho. O professor Alroíno nos deu muitos seminários sobre esse extenso tema, uma de suas pesquisas mais ambiciosas. Seus seminários eram sempre muito bem articulados, revelando um talento no lidar com as palavras e a linguagem, que tanto o apaixonavam. O exercício da fala, em Eble, era sempre impactante, ele gostava disso: de instigar e produzir enigmas, já que ele não respondia tudo e nem poderia. Eble sabia disso! Nós o víamos como uma espécie de Sócrates, o mestre de Atenas, que dizia só sei que nada sei, se sei algo é da força desejante e amorosa de Eros! Ele era admirado por todos nós, por sua generosidade em compartilhar seu vasto conhecimento, e por sua abertura às diferentes culturas humanas e às várias formas de saber, produzidas por cada uma delas. Eble, na percepção que eu tinha, era muito admirado, invejado e mesmo temido, por sua argúcia nos debates que fazia com qualquer interlocutor – não contra o outro, mas a favor do saber, da transmissão, da troca, que ele amava. Era um professor diferenciado, não havia dúvida, rigoroso no que fazia, com esmero e dedicação. Para mim, foi um grande amigo, um dos homens notáveis com quem tive o privilégio de aprender muitas coisas. Não só o que era falado, mas também o que se transmitia num discurso sem palavras que, como sabemos, às vezes é mais impactante e decisivo em nossas vidas.

    

                           

 

 

Agenda de Eventos

 

Evento 1 – Ação entre amigos com o sorteio de 5 livros Divino Gênese: as descobertas do pescador Antropólogo e uma tela de arte rupestre da Ilha do Campeche pintada pelo pesquisador Adnir Ramos.

Faremos outras ações. como caminhada e palestras assim que as condições nos permitires.

 

Contato para doações através do whatsapp da professora Giselle: (48) 996231310