Entre menires e dólmens – Uma viagem aos primórdios do megalitismo na Península Ibérica
Relatório da visita aos monumentos megalíticos de Portugal e Espanha, realizada por Adnir Ramos, Terezinha Stachelski, Victor Süssekind e Victória Bernardi, entre 03 e 14 de outubro de 2024.
Escrito por Victor Süssekind
Os territórios que hoje abrangem os países de Portugal e Espanha possuem uma grande quantidade de monumentos arquitetônicos da pré-história, constituídos por grandes blocos de rocha. Esses monumentos megalíticos, que sobreviveram ao tempo e as sucessivas ocupações do ser humano, estão espalhados por uma vasta região da Península Ibérica no sudoeste da Europa.
Os monumentos megalíticos predominantes nessa região são os menires e os dólmens. Supõe-se que os primeiros a surgir foram os menires e os seus agrupamentos, conhecidos como recintos megalíticos ou “cromeleques”, erguidos há aproximadamente 7.000 anos, na transição entre o Neolítico Antigo e Médio. Com o tempo, essas comunidades deixaram de erguer menires e passaram a construir dólmens, em diversas tipologias, a partir do Neolítico Médio e ao longo do Calcolítico (Idade do Cobre). Em seguida, aparecem também os monumentos do tipo tholoi, marcando uma nova fase da arquitetura megalítica, porém reduzindo um pouco o uso das enormes lajes de pedra.

Mapa dos sítios megalíticos na Península Ibérica, destacando a importante concentração megalítica no Alentejo (sombreado em vermelho). Fonte: https://ciudad-dormida.blogspot.com/search/label/Megalithic
Como podemos ver, existem centenas dessas estruturas, e ao estudarmos essa distribuição dos monumentos em Portugal, priorizamos conhecer aqueles mais preservados, que tinham sido restaurados, e alguns outros que estavam no caminho do nosso trajeto. Circulamos pelas áreas de maior concentração desses monumentos, passando pelos distritos de Viseu, Guarda e Portalegre, adentrando também a fronteira com a Espanha, até os dólmens do município de Valência de Alcântara, a oeste da província de Cáceres, para depois retornar a Portugal, novamente no distrito de Portalegre. Seguimos até Évora, onde passamos a maior parte da nossa viagem, e finalizamos a nossa jornada no maior dólmen do mundo, no município de Antequera, sul da Espanha.
Tudo isso se tornou um vigoroso roteiro, pois visitávamos de 6 a 9 lugares por dia. Havia muitos monumentos para conhecer e não queríamos deixar nenhum de fora. Ficávamos do amanhecer até o pôr do sol visitando dólmens e menires, durante 11 dias seguidos. Foi um tanto intenso, porém maravilhoso, cansativo e ao mesmo tempo energizante!
Foi então, no dia 3 de outubro de 2024, às 5h da manhã, que iniciamos o nosso percurso, saindo de Lisboa rumo ao primeiro monumento do nosso roteiro. Aproximadamente três horas depois chegamos à Anta da Arquinha da Moura. Os dólmens em Portugal são normalmente chamados de Anta, e também de Orca ou Arca.

À esquerda, placa de sinalização da Anta da Arquinha da Moura; à direita, Adnir, Terezinha e Vicky na porta de entrada do monumento.

O acesso ao público é fechado, para preservar o interior do dólmen, pois ainda restam vestígios de pinturas rupestres nas paredes da estrutura.

Planta da Anta da Arquinha da Moura indicando a numeração das rochas verticais do dólmen e as pinturas rupestres em vermelho sobre fundo branco, localizadas nas pedras C9 e C7.
Priorizamos iniciar com esse monumento, pois, além dos motivos de interesse e logística para o nosso roteiro, trata-se de um dos dólmens mais bem preservados de Portugal. Assim, a nossa primeira impressão foi ver como realmente eram esses monumentos: cobertos por uma espessa camada de terra, formada por pedras de dimensões pequenas e médias. Essa cobertura artificial, em Portugal é apelidada de mamoa, que cobria totalmente as grandes rochas que constituem a estrutura do dólmen.
Esses monumentos eram formados por um corredor de baixa altura, conectado a uma câmara de teto mais elevado. A câmara dolmênica era construída com grandes rochas, algumas cravadas na vertical; outras, suavemente inclinadas para o interior, chamadas de esteios ou ortóstatos, que sustentavam uma laje horizontal de largas proporções em seu topo. Essas câmaras possuem forma poligonal, algumas apresentando uma leve aparência retangular ou circular. Em muitos casos, esses dólmens tendiam a estar com o corredor alinhado aproximadamente com o leste ou sudeste, possivelmente por significados simbólicos ou rituais associados ao nascer do sol. No entanto, esse padrão não se aplicava universalmente, e cada monumento apresenta variações.

Ilustração dos detalhes de um dólmen e as nomenclaturas que compõe a estrutura.
Em nosso primeiro dia, após conhecermos a Anta da Arquinha da Moura, visitamos mais sete dólmens e um complexo de arte rupestre que fazem parte da MEG (Rota de Megalitismo Viseu Dão Lafões e Sever do Vouga) e do Circuito Pré-Histórico Fiais/ Azenha. A rota MEG atravessa 15 concelhos da área norte do Centro de Portugal, com 500 km de extensão, e conta com 28 monumentos e 9 espaços de exposição.
Assim, seguimos para a Orca de Sto. Tisco, também chamado por Mina dos Mouros ou Casa Desarrumada. Este dólmen foi salvo de uma destruição em 1992, através de uma intervenção arqueológica realizada naquele mesmo ano. Porém, décadas antes já se apresentava bastante danificado, por ter sofrido escavações clandestinas nos anos 40, do século XX, por trabalhadores agrícolas. O monumento contém um corredor curto e uma câmara com nove esteios, tendo quatro inteiros, um deles apresenta uma pintura em ocre, hoje em dia quase imperceptível, interpretada como sendo a representação de um sol com seis raios.

À esquerda, visão interna do Dólmen da Sto. Tisco, desde o fundo da câmara em direção ao corredor de acesso; à direita, Victor ao lado de fora da câmara.
O próximo monumento que exploramos foi o Dólmen da Orca, também chamado de Lapa da Orca ou Orca dos Fiais da Telha, que apresenta uma câmara poligonal de planta sub-retangular composta por nove esteios, com 4 m de comprimento e 2,80 m de largura. O corredor tem 7,60 m de comprimento e é formado por sete esteios no lado norte, oito esteios no lado sul, cinco lajes de cobertura e uma laje colocada em diagonal, chamada de “laje de guilhotina”, que fecha o vão entre o corredor e a câmara.

À esquerda, Terezinha e Vicky lendo a placa informativa do Dólmen da Orca; à direita, Victor dando uma olhada para dentro da câmara.

Visão interna da câmara do Dólmen da Orca. À esquerda, Adnir em baixo da grande “laje de guilhotina”; à direita, Vicky, Adnir e Terezinha desfrutando o interior espaçoso da câmara do dólmen – nota-se a imensa laje de cobertura.

Dólmen da Orca com parte da sua mamoa original, com uma planta oval, com cerca de 21 m no eixo maior e 18 m no eixo menor.
À medida que avançamos entre um dólmen e outro, vimos também as marcas dos incêndios que recentemente tinham atingido boa parte daquela região. Percebemos imediatamente que, se tivéssemos chego poucos dias antes, não teríamos conseguido visitar alguns desses monumentos por conta das queimadas. Em alguns lugares ainda estava saindo fumaça e por pouco alguns dólmens não foram atingidos.

À esquerda, Orca 1; à direita, Orca 2 do Ameal, ao fundo nota-se as marcas das recentes queimadas.
O Dólmen 1 do Ameal apresenta uma câmara pequena simples, aberta e sem corredor, com oito esteios e o chapéu de cabeceira. O Dólmen 2 do Ameal possui igualmente uma câmara pequena, aberta e também sem corredor, com um contraforte interno e apresenta dois esteios de cabeceira e apenas três esteios sustentando a pedra de topo.

Resultado das queimadas ao lado do complexo rupestre do Ameal e da Orquinha da Víbora.

Vicky, Adnir e Terezinha contemplando o complexo Rupestre do Ameal, localizado em um afloramento rochoso com diversos símbolos cruciformes, que podem representar figurações antropomórficas associadas eventualmente a aspectos-mágico-simbólicos.
Seguindo o percurso, passamos pela Anta da Cavada, que se encontra completamente desprovida de montículo artificial de terra e pedras que originalmente envolveria a mamoa. O dólmen é composto por uma câmara alargada com nove esteios, coberta por uma grande laje, e do corredor resta apenas um fragmento de seus ortóstatos.

Vicky, Adnir e Terezinha dentro da câmara da Anta da Cavada.
Dando continuidade, visitamos a Anta da Pedra da Orca, ou Dólmen de Rio Torto, que também está totalmente sem sua mamoa e possui uma câmara com cerca de 3,50 m de diâmetro. Esse monumento conta com sete esteios, dos quais seis são suavemente inclinados para o interior e atualmente com apenas três sustentando a laje de cobertura. Apresenta também um corredor curto sem os lintéis que o cobria.

À esquerda, Vicky encostada no esteio da cabeceira da Anta da Pedra da Orca; à direita, Terezinha, Adnir e Vicky aproveitando uma pausa dentro do dólmen.
Em seguida, visitamos a Anta da Arcaínha, ou Dólmen do Seixo da Beira, que também é um monumento de grandes dimensões. A câmara do monumento é formada por nove esteios, alguns parcialmente danificados, e a grande laje de cobertura tem um peso estimado em cerca de 15 toneladas. O corredor encontra-se sem os lintéis que o cobriam originalmente, e parte da mamoa ainda é visível.

À esquerda, Vicky e Adnir explorando a Anta da Arcaínha; à direita, Vicky, Adnir e Terezinha contemplando a imensa laje de cobertura.
Depois de conhecer todos esses dólmens e antes de nos direcionar para o centro da cidade de Viseu, para enfim chegar em nossa hospedagem, finalizamos o nosso primeiro dia com um belo final de tarde na Anta da Cunha Baixa. Mais um imponente monumento, em um local também muito agradável, medindo 10,40 m de comprimento, composto por um corredor de 7,20 m, formado por oito esteios de cada lado, e uma câmara poligonal de aparência retangular, com 3,20 m de altura e formado por nove esteios, com alguns danificados e incompletos, que ainda sustentam a grande pedra de topo de 4,5 m de diâmetro.

À esquerda, visão Noroeste da Anta da Cunha Baixa; à direita, visão interna do corredor que conduz a câmara. Nota-se um raro pavimento original, formado por pequenas lajes de rochas graníticas; apenas dois dólmens que visitamos, em todo nosso roteiro, ainda possuem pavimentos internos.

À esquerda, a parte de trás da câmara do dólmen, onde se observa a pedra mestra da cabeceira na posição vertical e o esteio lateral levemente inclinado para o interior; à direita, Adnir observando os detalhes das pedras do corredor. Há relatos de que, na década de 30 do século XX, havia ainda vestígios de pinturas dentro do dólmen, que, infelizmente, hoje já não estão mais visíveis.
Esse dólmen também se encontra desprovido de sua mamoa, e essa cobertura de terra é o que ajudava a preservar esses monumentos. Com as rochas expostas, a estrutura torna-se mais instável e vulnerável à ação do tempo: ventos, chuvas, o calor intenso do verão e o frio rigoroso do inverno, fragilizando toda a estrutura. É claro que gostaríamos que os dólmens estivessem originalmente intactos, como eram no passado; no entanto, essa situação nos permite hoje contemplar por todos os lados as belas e grandes rochas que compõem a estrutura, vendo a espessura, robustez e outros detalhes dessas enormes rochas com mais clareza. E esse era um fato impressionante que preenchia os nossos dias: ver o tamanho das rochas que esses povos se dedicaram a mover e utilizar nessas construções.
Acredita-se que a mamoa, além de sua função de proteger e preservar a estrutura megalítica ao longo do tempo, também exercia um papel prático durante a construção do monumento. À medida que os esteios eram fixados, a terra era progressivamente acumulada ao seu redor até atingir a mesma altura, funcionando como apoio e acesso, formando uma espécie de rampa que facilitava o transporte e a colocação dos lintéis do corredor e da grande laje de cobertura da câmara.
Há ainda a hipótese de que o interior do dólmen também teria sido completamente preenchido com terra até alcançar a altura dos esteios, de modo a facilitar ainda mais o posicionamento das lajes de cobertura. Concluída essa etapa, toda a terra acumulada no interior era removida, permanecendo apenas a mamoa externa, cobrindo e protegendo o dólmen.

Placa informativa local com o esquema geral da Anta da Cunha Baixa.
Os estudos arqueológicos apontam que todos os dólmens que estávamos visitando foram cobertos inicialmente por essa camada de terra chamada mamoa. Os dólmens que estão com suas rochas expostas mostram que estamos vendo apenas o seu esqueleto, ou seja, sua estrutura interna, pois a cobertura de terra já não existe mais. Durante as nossas visitas, vimos vários estágios dos restos dessas mamoas. Alguns dólmens ainda possuem vestígios bem visíveis da cobertura de terra nos seus entornos, e outros já não restam nem um sinal.
Ficávamos pensando: por que em alguns dólmens a mamoa se preservou, e em outros já não restava mais nada? O que fez desaparecer por completo ou parcialmente essas coberturas de terra? Seria resultado apenas da erosão? Um pesquisador que conhecemos durante as nossas visitas nos contou que, no passado, essas estruturas megalíticas foram frequentemente saqueadas na busca de encontrar tesouros e utensílios valiosos; com isso, as coberturas de terra acabaram sendo destruídas, e isso pode explicar essa ausência das mamoas. E, uma vez mexida, as chuvas e ventos ajudavam ainda mais na erosão e no desgaste da cobertura de terra.
Além dos saqueadores, muitos desses monumentos podem ter sido, em tempos antigos, alvos de destruição por povos estrangeiros. Provavelmente, nos últimos séculos, dólmens e menires também serviram como fonte de matéria-prima para a construção de habitações vizinhas, aumentando ainda mais a destruição. Por isso, ver esses monumentos que ainda estão de pé, com seus esteios sustentando a pedra de topo em seu cume — mesmo sem a mamoa, e alguns tendo sido restaurados — é realmente impressionante, considerando que sobreviveram a tantos séculos de ocupação e degradação. É uma sorte que alguns dólmens tenham se preservado quase que completamente, como é o caso da Anta da Arquinha da Moura, Anta Pintada de Antelas, Dólmen da Orca, Anta Grade da Comenda da Igreja, os dólmens de Antequera, na Espanha e entre outros que estávamos visitando.
Nas caminhadas e traslados entre um monumento e outro, ficávamos imaginando como deveriam ser essas paisagens megalíticas em sua época máxima, onde todos os monumentos encontravam-se ainda em seus estados originais, e o quão magnífico seria se todos esses dólmens e menires tivessem sido preservados até os dias de hoje. É uma pena que a ignorância, a ganância e a estupidez humana tenham destruído tantos vestígios preciosos do passado, assim como aconteceu em tantos outros lugares no mundo.

Pôr do sol na Anta da Cunha Baixa, marcando o fim do primeiro dia de visitas.
No dia seguinte, continuamos pelo caminho da MEG (Rota de Megalitismo Viseu Dão Lafões e Sever do Vouga), iniciando pelo único menir desse percurso: a Estela-Menir de Caparrosa. Talhado em granito, de forma paralelepipedal, com 2,80 m de altura a partir do solo, mais largo na base e levemente arredondado na extremidade do cume, o monumento apresenta diversas gravuras que remetem a diferentes épocas, desde o Neolítico final até o século XIX. Originalmente, ele não se encontrava isolado: integrava um alinhamento composto por oito monólitos menores — o mais alto com cerca de 1,20 m — considerado, talvez, um dos últimos vestígios de um grande recinto. Há algumas décadas, esses oito monólitos ainda permaneciam no local, mas acabaram destruídos, restando hoje apenas a Estela-Menir.

À esquerda, Vicky, Terezinha e Adnir contemplando as inscrições da Estela-Menir de Caparrosa; à direita, visão Sudoeste da Estela-Menir, com a rua de acesso, beirando a avenida.
Depois, visitamos a Anta da Arca, também conhecida como Anta do Espírito Santo D’Arca, Pedra da Arca e Pedra dos Mouros, que é um monumento aparentemente sem corredor, possivelmente destruído e sem vestígios da mamoa. Apresenta uma câmara com aproximadamente 4,5 m de comprimento, 3,75 m de largura e 2,65 m de altura. A estrutura é composta por sete esteios, dos quais apenas três permanecem inteiros, sustentando uma laje de cobertura de formato retangular. Os demais esteios encontram-se fraturados um pouco acima do nível do solo.

À esquerda, visão frontal da Anta da Arca, com Terezinha, Adnir e Vicky vislumbrando sua estrutura; à direita, visão traseira do monumento com o esteio de cabeceira e Adnir em segundo plano, bem aonde estaria localizado o corredor de acesso.
Seguimos para o Dólmen 2 da Necrópole Megalítica de Chão Redondo que, apesar de estar danificado, se destaca pelas gravuras que o decoram. O monumento apresenta uma câmara com 2,30 m de comprimento e um corredor de acesso. Dos nove esteios originais da câmara, apenas três permanecem no local. No corredor, conservam-se ainda oito esteios, quatro de cada lado. O esteio de cabeceira, os dois que o ladeiam e um do corredor apresentam gravuras rupestres. O monumento preserva também parte da mamoa, com diâmetro entre 15 m e 18 m. Os padrões geométricos gravados no esteio de cabeceira nos fizeram lembrar imediatamente às chamadas ‘máscaras’ encontradas em Florianópolis, especialmente nas gravuras rupestres da Ilha do Campeche, Praia do Santinho, Barra da Lagoa e de outros locais do litoral catarinense.

À esquerda, Adnir muito feliz ao lado das gravuras rupestres do Dólmen 2 da Necrópole Megalítica de Chão Redondo; à direita, visão frontal das gravuras no esteio de cabeceira.
Nesse segundo dia pela região de Viseu, tivemos o privilégio de conhecer e entrar na Anta Pintada de Antelas, apelidada de “Catedral do Neolítico”, considerada um dos expoentes da arte megalítica da Europa, devido ao grande conjunto de pinturas rupestres e ao ótimo estado de conservação. As figuras foram pintadas em cores vermelho e preto, representando motivos geométricos compostos por linhas onduladas, ziguezagues, pontos, triângulos, linhas que se cruzam com aparência de malha, repreensões antropomórficas estilizadas e símbolos que lembram o sol e a lua, tudo isso transpassando um sentido mágico-simbólico. O dólmen é coberto por uma mamoa com cerca de 20 m de diâmetro e 2,50 m de altura, também em ótimo estado de conservação. O monumento apresenta um corredor interno estreito, com 3,40 m de comprimento, que leva à câmara de formato poligonal irregular, com 2,60 m de largura por 2,40 m de comprimento e 2,20 m de altura, formada por oito esteios de granito, onde se encontram as pinturas rupestres.
Fomos recepcionados por Filipe Soares, guardião e estudioso do local, que nos explicou detalhadamente sobre o monumento, sendo muito atencioso e entusiasta da cultura megalítica. A Anta de Antelas possui um detalhe raro de se encontrar nos dólmens hoje em dia: o monumento preserva um pátio de entrada pavimentado, que se conecta ao corredor. Apesar do bom estado de conservação, o monumento recebeu restaurações; a cobertura da câmara e do corredor é composta por lintéis modernos, e a pedra de topo original que cobria a câmara foi destruída devido à ação causada pelos antigos saqueadores de dólmens.

À esquerda, Filipe Soares e Adnir no pátio original de entrada do monumento; à direita, a visão interna do corredor que leva à câmara com as pinturas rupestres.

A Anta de Antelas possui as pinturas rupestres mais bem preservadas dentro de um dólmen de toda a Península Ibérica e talvez do mundo todo.
Depois dessa profunda experiência na Anta Pintada de Antelas, sentimos na pele o que a placa informativa revela: “Ao penetrarmos no interior desse dólmen, mergulhamos em um mundo onde a magia dos símbolos nos envolve e emociona.”
Entusiasmados voltamos ao carro e seguimos por cerca de 30 minutos por estradas ziguezagueantes, até avistarmos, à beira do caminho, a Anta da Cerqueira. Aproveitamos essa parada para descansar um pouco. Esse monumento também é conhecido como Pedra da Moura e apresenta uma câmara de planta poligonal com cerca de 3,5 m de largura por 3 m de comprimento, constituída por nove esteios. O corredor de acesso, com aproximadamente 4 m de comprimento, conserva ainda onze esteios. A laje de cobertura possui contorno quase circular e espessura média de 0,45 m. Esse dólmen integra uma necrópole atualmente composta por oito monumentos megalíticos.

À esquerda, Vicky na entrada do corredor da Anta da Cerqueira; à direita, Adnir dentro da câmara do dólmen.
Logo depois, retomamos o trajeto por mais 40 minutos, percorrendo os caminhos serpentinos daquela região entre Aveiro e Viseu, até chegarmos ao nosso último destino arqueológico desse segundo dia de viagem: a Pedra Escrita de Serrazes. Trata-se de um monólito granítico natural, com cerca de 2,50 m de altura por 2 m de largura, repleto de gravuras rupestres. A rocha foi seccionada verticalmente, com sua face plana orientada à nascente. Sua superfície encontra-se quase totalmente coberta por gravuras rupestres, exceto em duas áreas onde a camada superficial do granito se degradou — provavelmente apagando as inscrições que ali também existiam. As gravuras, de caráter abstrato e geométrico, incluem circunferências simples e concêntricas, sinais quadrangulares semelhantes a padrões de xadrez, além de pequenas covinhas.
Chegamos ao fim da tarde e aguardávamos ansiosamente o anoitecer para contemplar, com o auxílio da lanterna, os relevos e detalhes dos símbolos rupestres. Mas enquanto ainda havia luz natural, observávamos atentamente cada traço gravado. Quando a escuridão se instalou e já não enxergávamos mais nada, esperamos um instante em silêncio. Então, ao apontarmos a lanterna para o pedregulho, os relevos emergiram com grande nitidez. Esse primeiro momento é sempre muito especial — os desenhos pareciam saltar da rocha! Movíamos a luz de cima para baixo, de um lado para o outro, explorando cada ângulo possível. Ficamos ali, imersos, contemplando os traços antigos dos petróglifos, como se estivéssemos diante de uma galeria de arte ancestral. E assim, encerramos o nosso segundo dia de visitas, admirando os vestígios de um passado remoto que ainda pulsa nas pedras.

À esquerda, a Pedra Escrita de Serrazes ainda sob a luz natural do dia; à direita, iluminada pela lanterna, revelando a profundidade e os detalhes dos seus antigos relevos.
Na manhã seguinte, por volta das 6h30, começamos o nosso terceiro dia envoltos por uma densa neblina e um céu encoberto, com cara de chuva. Nosso primeiro destino foi a Orca de Pendilhe, que parecia ter saído de um cenário de filme devido às brumas que a cercavam, criando um clima de magia e suspense. Esse dólmen é composto por uma câmara de nove esteios, medindo 2,86 m de comprimento, 3,40 m de largura e 2,80 m de altura, e um corredor com 5,20 m de comprimento, orientado a sudeste. Do antigo corredor restam apenas quatro esteios em sua posição original, sendo possível, durante os trabalhos arqueológicos, identificar as fossas de assentamento de mais oito esteios, o que permitiu a sua reconstituição através da colocação de um muro de pedras soltas. Há vestígios de manchas de pinturas em vermelho na base do esteio de cabeceira, sugerindo que este dólmen teria sido bastante decorado. Na parte superior da laje de cobertura há um conjunto de três retângulos concêntricos, associados a um arco e a um dos topos, representando uma simbologia que lembra o jogo do moinho. Entre os materiais encontrados dentro do dólmen, destaca-se um cristal de quartzo com 13,4 cm. Exploramos o monumento, entrando e saindo, dando algumas voltas ao redor, e, com receio de que a chuva atrapalhasse o nosso dia, partimos para o próximo dólmen do roteiro.

A Orca de Pendilhe envolta nas brumas. À esquerda, visão frontal do monumento com o corredor restaurado e vestígios da mamoa; à direita, vista interna do dólmen.
Cerca de 20 minutos depois, chegamos à Orca de Forlês, acompanhados por uma leve garoa. Nos abrigamos dentro da câmara do dólmen, aguardando a chuva passar, enquanto admirávamos o seu interior e apreciávamos sua atmosfera megalítica. A estrutura conta com uma câmara de nove esteios e um corredor médio. Até os anos de 2020 e 2021, o monumento encontrava-se completamente tombado, com a mamoa bastante destruída — consequência do plantio de pinheiros e, provavelmente, de outros fatores humanos. Nesse período, foi alvo de escavações e trabalhos de restauração, que permitiram recuperar sua configuração e evidenciar a laje de cobertura abundantemente esculpida, com dezenas de covinhas, um curioso símbolo de círculos concêntricos e vestígios de pintura na laje de cabeceira.

À esquerda, vista externa do Dólmen Orca de Forlês; à direita, vista interna da câmara.
Depois de alguns minutos, a chuva diminuiu e seguimos para o próximo monumento. Após 30 minutos de carro, chegamos à Anta do Penedo do Com. Ao nos aproximarmos, percebemos que, por muito pouco, o fogo das queimadas não havia atingido o dólmen. Esse monumento apresenta uma câmara formada por nove esteios bastante danificados, dos quais apenas três ainda sustentam a laje de cobertura e que parece estar faltando uma parte. O corredor, de tamanho médio e orientado a sudeste, conserva oito esteios — quatro de cada lado — com suas respectivas lajes de cobertura. A estrutura era envolvida por um contraforte que, no prolongamento do corredor, delimitava um pátio de planta semicircular. Nas escavações arqueológicas realizadas em 1998, foram identificados 1.075 artefatos, entre eles pontas de seta, micrólitos, um machado de pedra polida e fragmentos cerâmicos, datados desde o Neolítico Final até o Calcolítico e o início da Idade do Bronze.

Anta do Penedo do Com. À esquerda, Vicky sobre o resto da mamoa e ao lado da laje de cobertura; à direita Adnir explorando o interior da câmara. Em ambas as fotos percebe-se as marcas das queimadas na frente e em volta do monumento.
Depois de visitar esses três monumentos, começamos a nos afastar da Rota Viseu Dão Lafões, adentrando o distrito da Guarda, onde paramos para conhecer o Dólmen da Matança e a Anta de Cortiçô, integrantes da rota pré-histórica de Fornos de Algodres.
O Dólmen da Matança, também chamado de Anta da Matança, apresenta uma câmara com cerca de 3,5 m de diâmetro, composta por nove esteios — alguns fraturados, mas ainda sustentando a laje de cobertura. Alguns deles exibem vestígios de gravuras. Na ausência de evidências de um corredor, admite-se a possibilidade de que o monumento tenha possuído um pátio de entrada ou, eventualmente, um corredor curto. Não são visíveis vestígios da mamoa que originalmente o recobria.

À esquerda, Vicky encostada em um dos esteios danificados da entrada da Anta da Matança; à direita, Vicky e Adnir contemplando o interior do monumento.
Depois seguimos para a Anta de Cortiçô, também conhecida como Orca de Cortiçô, conta com uma câmara de aproximadamente 3.90 m de largura e 3,20 de comprimento, formada por nove esteios. O corredor, orientado a SSE (Su-sudeste), teria cerca de 5 m de comprimento. Três esteios da câmara apresentam vestígios de pintura vermelha, e a laje de cobertura possui marcas de covinhas. A estrutura era sustentada por um contraforte exterior, do qual ainda se conservam alguns vestígios, principalmente no lado norte da câmara.

À esquerda, visão frontal da entrada da Anta do Cortiçô com o seu corredor restaurado e vestígios da mamoa; à direita, visão sudeste da câmara com o esteio de cabeceira e os demais ortóstatos do dólmen.
Logo depois, sem querer, encontramos pelo caminho outro monumento, que não constava no mapa e nem possuía placa informativa, parecendo representar restos de um suposto dólmen que teria sido remontado.

Restos de um suposto dólmen não sinalizado que encontramos pelo caminho.
Em seguida, visitamos a curiosa Pedra do Sino, também chamada de Penedo do Sino ou Pedra Sineira, na Necrópole de São Gens, onde passamos a maior parte da tarde. Trata-se de um imponente bloco de granito pedunculado, esculpido pela ação dos agentes naturais ao longo do tempo, notável por seu equilíbrio, conferindo-lhe uma aparência singular e atraente. Acredita-se que tenha possuído um significado mágico-religioso para as populações antigas da região, dada sua proximidade e possível relação simbólica com a necrópole de São Gens, situada ao seu redor. Essa necrópole, escavada diretamente na rocha, reúne cerca de 54 sepulturas de diferentes tipologias.

À esquerda, a Pedra do Sino ao fundo, com duas das sepulturas escavadas diretamente a rocha na frente; à direita, a placa informativa sobre a formação e história do local.
Depois, nos dirigimos à Anta da Pêra do Moço, nosso último monumento desse dia. O dólmen apresenta uma câmara de 2,70 m de comprimento por 2 m de altura, que originalmente teria contado com 6 ou 7 esteios, dos quais ainda se conservam cinco, além da laje de cobertura em formato oval. Aparenta ter possuído um corredor curto, possivelmente com dois esteios de cada lado, juntamente com a mamoa, que cobria toda a estrutura.

À esquerda, visão frontal da Anta da Pêra do Moço; à direita, fotografias dos trabalhos de escavação arqueológica realizados em 2001, durante os quais foram identificadas as antigas fossas de implantação dos esteios e os calços estruturais do corredor.
Assim que a luminosidade começou a diminuir, voltamos para o carro e seguimos viagem, desta vez por um trajeto mais longo até nossa próxima hospedagem. Deixamos o distrito de Guarda para atravessar o distrito de Castelo Branco, até chegarmos a um hotel à beira da estrada. Ali passamos a noite, preparando-nos para o dia seguinte, quando adentraríamos o distrito de Portalegre, situado na região do Alentejo (Alto Alentejo), para conhecer mais menires e também outros dólmens.
Então, no amanhecer do quarto dia, seguimos direto para o Menir do Patalou, localizado a cerca de 5 km da cidade de Nisa. Estacionamos o carro na beira da estrada e seguimos a pé pelo terreno sinalizado, caminhando um pouco mais de 200 m até chegar no monumento.
Descoberto no final da década de 1990, o Menir do Patalou encontrava-se tombado quando foi identificado por um senhor que costumava caçar no local. Porém, à primeira vista, não reconheceu tratar-se de um menir, até porque não sabia o que era isso, mas desconfiou que o monólito parecia ter sido trabalhado. Anos mais tarde, ao ler as histórias de Asterix e Obelix, associou a forma peculiar da rocha aos menires ilustrados. Foi então que percebeu que a curiosa pedra, pela qual havia passado várias vezes, era, de fato, um menir. Embora a confirmação de se tratar de um autêntico monumento megalítico tenha ocorrido naquela época, foi só em 2015 que o menir foi estudado, reerguido e aberto ao público como ponto turístico.
Este monumento é um monólito de granito com cerca de 4 m de comprimento em sua totalidade (considerando a parte enterrada), possui aproximadamente 1 m de diâmetro e um peso estimado em 7 toneladas. O menir ainda preserva vestígios pouco visíveis de gravações, como linhas serpentiformes e pequenas covinhas. Por razões arqueológicas e de preservação, optou-se por erguê-lo a cerca de seis metros ao norte do local original, mantendo a mesma linha de posicionamento. Isso evitou a necessidade de aprofundar e destruir os vestígios da fossa primitiva para suportar novamente o pesado monólito e também impediu que as raízes de uma jovem árvore, então muito próxima, comprometessem a estabilidade do monumento. Um pequeno marco de granito assinala o local original em que se encontrava o menir.

À esquerda, Victor a caminho do Menir do Patalou; à direita, Terezinha, Vicky e Adnir analisando o menir.
Depois da visita ao singelo Menir do Patalou, seguimos de carro até a Anta 1 dos Saragonheiros. Sua estrutura apresenta uma câmara com cerca de 4 m de diâmetro, composta por sete esteios de granito com aproximadamente 2,40 m de altura, e um corredor longo, formado por seis esteios. A laje de cobertura foi reposta sobre os esteios da câmara em 2017. Ainda é possível observar vestígios da mamoa que cobria a estrutura, assim como o menir tombado junto à extremidade sudeste do corredor. Considera-se que, durante a construção do dólmen, esse menir tenha sido adaptado para reutilização como esteio do corredor do monumento. Aproveitamos também para conhecer os restos da Anta 2 dos Saragonheiros, localizada a 350 m de distância da Anta 1.

À esquerda vista frontal da Anta 1 dos Saragonheiros, com o menir reutilizado em primeiro plano; à direita face norte da câmara, com Vicky e Terezinha contemplando sua estrutura.

À esquerda, face sul da Anta 1; à direita, os restos da Anta 2 dos Saragonheiros.
Logo depois, visitamos a Anta 1 de São Gens, a maior e mais bem preservada de um conjunto de dólmens situados nas proximidades. Essa estrutura apresenta um corredor curto e uma câmara com cerca de 2,50 m de altura e cerca de 3 m de diâmetro, composta por sete esteios. O esteio de cabeceira encontra-se fraturado, com parte dele tombada para o interior da câmara. A laje de cobertura também parece estar parcialmente fraturada, com fragmentos sobre o corredor, e restam apenas poucos vestígios da mamoa.

À esquerda, visão frontal da Anta 1 de São Gens, com Adnir dentro da câmara; à esquerda, Vicky e Adnir dentro da câmara e Terezinha sobre um dos esteios fraturados do fundo do dólmen.
Conseguimos explorar todos esses monumentos ainda pela manhã, graças à curta distância entre eles. E continuando nosso percurso, nos direcionamos para um dos lugares de maior destaque nesse dia: a conhecida Anta do Tapadão, também chamada de Anta da Aldeia da Mata, considerada um dos dólmens mais altos de Portugal. Trata-se de um dólmen excepcional, com uma câmara de aproximadamente 4 m de diâmetro, formada por sete esteios de grande porte, um deles bem danificado, faltando metade da estrutura. A câmara possui mais de 3 m de altura, com uma grande laje de cobertura que mede 4,27 m x 3,35 m. A entrada da câmara é fechada por uma enorme rocha, uma laje de guilhotina que mede cerca de 3 m de comprimento por 2,78 m de largura, e possui vestígios de um longo corredor de entrada, com cerca de 11 m de comprimento, voltado à nascente. Parte da grande mamoa que o cobria ainda é visível. Foi o dólmen em que permanecemos por mais tempo em seu interior; com sua câmara espaçosa, ficamos descansando e contemplando as enormes lajes que a compõem.

À esquerda, Adnir de frente para o longo corredor e de costas para a grande laje de guilhotina da Anta do Tapadão; à direita, Vicky ao lado de um dos esteios da câmara e sobre os restos da imensa mamoa.

À esquerda, face norte da Anta do Tapadão; à direita, visão interna de um dos grandes esteios fraturados.

À esquerda, visão interna com a laje de guilhotina que separa o corredor da entrada da câmara; à direita, Vicky e Adnir contemplando o tamanho do esteio de cabeceira.
Depois de muita contemplação na Anta do Tapadão, saímos cheios de reflexões e seguimos rumo ao próximo monumento: a Anta do Crato, também conhecida como Anta do Couto dos Andreiros 1. Trata-se de um dólmen pouco visitado, sem qualquer sinalização ao longo do caminho. Localiza-se em terreno particular, cercado e sem acesso público, mas ainda assim é bem visível e próximo da estrada. Tentamos encontrar alguém para pedir autorização de entrada, mas não havia ninguém por perto. Com cuidado e respeito pelo local, pulamos a cerca e caminhamos até o monumento. Devido à transformação da paisagem, o cenário que envolve o dólmen é bastante singular, diferente de todos que havíamos visitado até então. A Anta do Crato ergue-se destacada no topo de uma pequena colina, em meio a um campo agrícola, ao lado de uma árvore solitária de copa avantajada. Sua estrutura consiste em uma câmara com cerca de 3 m de diâmetro e cerca de 2 m de altura na parte mais elevada, teria tido 6 esteios, faltando um onde se encontra o tronco da árvore. Não há vestígios visíveis do seu corredor e nem da sua mamoa.

Visão nordeste da Anta do Crato e sua árvore companheira em meio ao campo.
Ver um monumento desses ao longe e caminhar em sua direção é sempre uma experiência envolvente, reflexiva ou quase meditativa. Naquele cenário amplo, o dólmen fundia-se visualmente ao tronco da árvore, criando a ilusão de que os galhos brotavam diretamente de sua estrutura pétrea — uma visão um tanto poética. Havia uma silenciosa comunhão entre o monumento antrópico milenar, a árvore solitária e a paisagem, como se o tempo ali se curvasse para preservar um instante de ligação entre natureza e ancestralidade. Essa paisagem, ao mesmo tempo, nos remetia à impermanência das coisas e a como o ser humano transforma o ambiente em que vive. Igualmente, nos faz refletir sobre a durabilidade do dólmen, pois mesmo que o monumento pareça eterno ele é também passageiro, mas o pensamento e a sensação que desperta em nós é de que a eternidade habita nessas estruturas megalíticas.

À esquerda, Vicky e Terezinha contemplando a estrutura da Anta do Crato, e Adnir dentro da câmara; à direita Terezinha, Adnir e Victor na entrada do dólmen.

À esquerda, a árvore de azinheira junto a um dos esteios da estrutura; à direita, a vista interna da entrada da câmara voltada a sudeste, onde provavelmente existia um corredor de acesso.
Deixamos aquela paisagem de prados, com a solitária Anta do Crato, para retornarmos ao carro e seguirmos por 30 minutos até chegar à Anta da Melriça, um dólmen de grande estatura localizado no município de Castelo de Vide. Com cerca de 3 m de altura, apresenta, como a maioria dos dólmens, uma câmara de planta poligonal irregular, com aproximadamente 3,5 m de diâmetro. É composta por sete esteios graníticos, dos quais apenas três permanecem em sua posição original, sustentando a grande laje de cobertura; os demais encontram-se bastante danificados. Não há vestígios do corredor, e pode ser que as diversas pedras espalhadas ao redor sejam restos de sua mamoa.

Terezinha, Adnir e Vicky dentro da Anta da Melriça.
Partimos da Anta da Melriça em direção ao último monumento desse quarto dia de visitas: o Menir da Meada, um dos grandes destaques da região de Castelo de Vide. Com 7 m de altura, é o menir mais alto de toda a Península Ibérica, datado em aproximadamente 7 mil anos de idade. “Descoberto” em 1965, encontrava-se fraturado em duas partes, mas foi restaurado e reerguido em 1993. Seu peso é estimado entre 15 e 18 toneladas, e em sua superfície ainda restam sinais de gravuras. Ao chegarmos, caminhamos ao redor do imenso monólito, erguendo os olhos para reconhecer os detalhes de seus relevos serpentiformes — até quase sentir dor no pescoço de tanto olhar para cima. Encerramos o dia contemplando o pôr do sol, com o imponente Menir da Meada em primeiro plano.
À medida que o céu escurecia, envolto pelo silêncio da paisagem, aquele gigantesco monólito esculpido e cravado na terra despertava uma sensação de encanto. Era fascinante imaginar aqueles misteriosos ancestrais que ali estiveram há milênios, suas histórias e rituais. Sentíamos uma conexão quase como se pudéssemos escutá-los em nossa mente, como se ainda estivessem presentes, ocupando aquele espaço e realizando suas cerimônias sagradas. Quando escureceu totalmente, deixamos o ciclópico Menir da Meada e passamos a noite na charmosa vila de Castelo de Vide.

À esquerda, Terezinha contemplando os detalhes gravados no monólito; à direita, o pôr do sol por trás do imenso Menir da Meada.
No dia seguinte, como já de costume, acordamos bem cedo e, dessa vez, saímos para atravessar a fronteira, deixando Portugal e rumando aos dólmens do município de Valência de Alcântara, na província de Cáceres, na Espanha. Essa região abriga mais de 40 dólmens catalogados, embora muitos estejam danificados ou destruídos. Passamos a manhã e boa parte da tarde visitando alguns monumentos da Ruta Circular de los Dólmenes, da Ruta Dólmenes Zafra e o Dólmen de Tapias I.
O primeiro monumento visitado foi o Dólmen Tapada del Anta, que faz parte da Ruta Circular de los Dólmenes e, está localizado no topo de uma pequena colina. Possui uma câmara de 4,50 m de diâmetro e mais de 2,50 m de altura, formada por sete esteios, além de restos de um corredor longo orientado à nascente.

À esquerda, Adnir, Terezinha e Vicky no dólmen Tapada Del Anta; à direita, visão de entrada da câmara.
Em seguida, fomos até o Dólmen Huerta de las Monjas, o monumento que exigiu a caminhada mais longa a partir do local onde era possível chegar de carro, diferente dos outros que visitamos até então, todos de acesso bem próximo. Esse monumento possui uma câmara de 3,90 m de diâmetro, formada por sete esteios com mais de 2 m de altura e restos do corredor de acesso.

Terezinha, Vicky e Adnir na câmara do Dólmen Huerta de las Monjas.

À esquerda, a placa da Ruta Circular de los Dólmenes; à direita, Adnir retornando do Dólmen Huerta de las Monjas.
Depois, seguimos para a Ruta Dólmenes Zafra, onde primeiro visitamos o Dólmen Zafra III. De todos os monumentos que compõem esse percurso, este é o de menores proporções. Possui 1,80 m de altura e uma câmara de 2,60 m x 2,20 m, formada por sete esteios, alguns deles danificados. Durante a visita, fomos surpreendidos por uma leve chuva e aproveitamos o abrigo dentro do dólmen para descansar um pouco e esperar a chuva passar.

À esquerda, Ruta Dólmenes Zafra; à direita, o Dólmen Zafra III.

À esquerda, Vicky e Terezinha dentro do Dólmen Zafra III e a direita, Adnir tirando um cochilo.
O próximo monumento foi o Dólmen Zafra IV, que apesar de estar bem danificado, restando apenas cinco esteios da câmara, trata-se de um dos maiores dólmens do município de Valência de Alcântara.

À esquerda, o caminho para o Dólmen Zafra IV; à direita, Vicky e Terezinha ao lado dos restos de sua estrutura.
Continuando o percurso, visitamos o Dólmen Tápias I, que se encontra em bom estado, embora o corredor e a cobertura de terra estejam totalmente destruídos. A câmara mede 3 m por 3,40 m de diâmetro, é composta por sete esteios e coberta pela laje de granito. A cerca de 50 m, encontra-se o Dólmen Tapias II, que infelizmente está completamente destruído.

À esquerda, Victor, e à direita, Adnir, na porta de entrada do Dólmen Tápias I.

À esquerda, Vicky ao lado do Dólmen Tápias I; à direita, a placa indicativa para chegar ao Tapias II.
Depois de visitar todos esses dólmens, pegamos um desvio em uma rua alternativa que o mapa indicava para seguir até os próximos monumentos do dia. Sabíamos que esse atalho era uma estrada de terra, pois havíamos visto pelas imagens via satélite, mas não imaginávamos a surpresa que nos aguardava. No início, parecia tudo normal, mas rapidamente a estrada foi se estreitando e ficando cada vez mais esburacada. Mesmo assim, decidimos seguir e logo nos vimos trepidando sobre inúmeras pedras irregulares e pontiagudas que ocupavam o caminho. Nitidamente, a estrada não estava em bom estado, mas já era tarde demais para retornar. Manobrar naquele espaço estreito, cheio de pedras, cercado por muros rústicos, arames e vegetação, parecia tão difícil quanto prosseguir, então avançamos em frente. Com os pneus patinando entre uma superfície e outra, o eixo de suspensão do carro se esforçava para manter todas as quatro rodas no chão irregular formado por erosões e rochas, enquanto nos sentíamos quicando nos bancos. Escutando a lataria raspando nas pedras, mantínhamos os esfíncteres contraídos, como se pudéssemos ajudar o carro a ficar mais leve. Por alguns instantes, eu e a Vicky, no banco de trás, pensamos que o perrengue da viagem estava bem em nossa frente, imaginando que a qualquer momento o carro iria enguiçar de vez, “morrendo” sobre alguma pedra ao bater com força. Estávamos em um trecho sem sinal de celular e afastados da cidade — cenário perfeito para um clássico perrengue. Entretanto, apesar de tudo indicar que iria dar ruim, nada aconteceu; seguimos só por mais alguns instantes nessa situação.
Graças ao nosso corajoso piloto megalítico, Adnir Ramos, que manobrava o volante com ousadia enquanto acelerava, conduzindo o carro pelas margens e desviando dos pedregulhos, conseguimos vencer essa turbulência. Finalmente, aquele terrível trecho terminou. O atalho nos levou de volta a uma estrada mais plana — ainda de terra, mas sem o terreno acidentado como antes. Depois de viver aquele momento de aflição e trepidação, com medo de danificar nosso veículo, estávamos finalmente seguros e nunca sentimos tanto prazer em perceber o carro se movendo sobre uma superfície plana como naquele instante.
Seguimos o caminho rindo da aventura, agradecendo por não ter furado nenhum pneu ou ocorrido algum dano grave ao carro. Instantes depois, já estávamos novamente frente a frente com mais um dólmen de vários milênios, inserido em uma bela e rica paisagem geológica do patrimônio cultural El Berrocal de La Data. Tratava-se do Dólmen Cajirón II, que possui um diâmetro de 2,72 m x 2,92 m e apresenta uma câmara com sete esteios. É possível ver poucas pedras restantes do corredor, atualmente destruído, assim como sua mamoa, da qual não restam mais grandes vestígios.

À esquerda, Adnir na entrada do Dólmen Cajirón II; à direita, visão interna da câmara voltada à nascente.
Logo após, e bem próximo do Dólmen Cajirón II, visitamos o Dólmen El Mellizo, também chamado Anta de la Marquesa. Sem apresentar mais a sua cobertura de terra, o monumento possui pouco mais de 2 m de altura e uma câmara com 3 m por 3,60 m de diâmetro, formada por sete esteios, alguns parcialmente destruídos. É um dos poucos dólmens da região (talvez o único) que ainda conserva, junto com a laje de cobertura, a laje de guilhotina (oitavo esteio), que separa a câmara do corredor, que está orientado para o leste e parcialmente destruído.

À esquerda, visão frontal do Dólmen El Mellizo; à direita, a sua face sul, com alguns dos ortóstatos danificados.
Depois de visitar todos esses dólmens, ainda nos restava finalizar o dia em um curioso círculo de pedras, chamado Cromeleque de Las Lanchuelas. Localiza-se próximo a uma rua asfaltada, porém sem placas indicativas ou sinalizações. Não parecia ser um ponto muito turístico, e tivemos que pular um pequeno muro de pedras para chegar até o local. Existem poucas informações sobre esse círculo de pedras e, até o momento, parece que ainda não foi submetido a escavação ou levantamento arqueológico formal – pelo menos não encontramos nenhuma pesquisa científica durante a construção desse texto. Talvez um dos motivos seja o fato de as rochas que formam o monumento estarem sobre um afloramento rochoso, impossibilitando as escavações. A disposição das rochas em formato circular é convincentemente intencional, formada por cerca de 10 rochas de tamanhos variados, uma delas de altura bem mais elevada e outras bem pequenas, entre elas algumas que pareciam ter sido colocadas recentemente para completar um espaço da circunferência.

À esquerda, visão oeste do monumento, com Terezinha e Adnir ao fundo; à direita, Vicky ao lado da rocha de maior volume do conjunto.
Fontes da internet sugerem que o monumento poderia ser da Idade do Ferro, período muito mais recente do que os menires e dólmens da região. Esse conjunto parece ser um caso isolado e difere bastante dos demais monumentos, pois os círculos de pedras não são encontrados nessa região. Além disso, os menires estão cravados em superfícies arenosas, e não sobre uma base de rocha, como ocorre neste caso.

Visão norte do Cromeleque de Las Lanchuelas; percebe-se um pequeno espaçamento orientado para o monólito de maior altura, marcando o que parece ser o eixo central do círculo.
Existe outro agrupamento de rochas, que não visitamos, com leve aparência circular, a 62 km de distância desse local, porém de aspecto mais natural e menos evidente, localizado no caminho que leva ao Monumento Natural de Los Barruecos, em Malpartida de Cáceres, também na Espanha.
Ficamos observando o círculo de pedras de Las Lanchuelas, imaginando todas as possibilidades que poderíamos conceber em relação a essa curiosa estrutura, enquanto o sol se punha e as tonalidades de laranja e vermelho coloriam as nuvens no horizonte. Ao terminar o espetáculo do crepúsculo e com a chegada da noite, voltamos para o carro e atravessamos novamente a fronteira para Portugal, na cidade de Portalegre, onde nos hospedamos e fizemos nosso jantar, deixando pronto também o almoço do dia seguinte. Fomos dormir preparados para sair cedo, já com as mochilas prontas para o próximo dia.

Cromeleque de Las Lanchuelas com as cores do pôr do sol, marcando o fim do nosso quinto dia de aventura.
No dia seguinte, era hora de seguir para Évora e adentrar no universo megalítico eborense. Saímos bem cedo, ainda de noite, e pegamos o amanhecer na estrada, aproveitando para visitar alguns dólmens que estavam próximos do caminho até a cidade de Évora.
O primeiro foi a Anta da Coutada de Barbacena, localizada no topo de uma pequena colina. Sua câmara está parcialmente destruída, formada talvez por sete esteios, dos quais apenas quatro permanecem no lugar. A laje de cobertura encontra-se equilibrada sobre dois desses esteios. O monumento apresenta uma configuração assimétrica, bem diferente da maioria dos outros dólmens: o corredor está desalinhado com o eixo central, adentra lateralmente a câmara e parece incluir um menir reutilizado. A laje de cobertura também se mostra em desarmonia com a câmara. Toda essa assimetria pode resultar de limitações construtivas locais, da reutilização de elementos megalíticos anteriores (como o suposto menir no corredor) ou de mudanças de uso e adaptações ao longo do tempo.

À esquerda, Adnir analisando os ângulos da Anta da Coutada de Barbacena; à direita, nota-se o suposto menir, que teria sido reutilizado como lintel do corredor.
Depois, seguimos para a Anta da Herdade da Candeeira, localizada também sobre uma pequena elevação do terreno, e que apresenta algumas características raras. Enquanto a maioria dos dólmens em Portugal é de granito, a Anta da Candeeira foi construída com lajes de xisto. Possui uma câmara de 3 m de diâmetro, formada por sete esteios e uma laje de cobertura. Do corredor ainda existem vestígios de dois esteios bastante enterrados na entrada da câmara. Outra característica rara da Anta da Candeeira é o pequeno orifício no esteio da cabeceira, com cerca de 20 x 20 cm, chamado de “buraco da alma”. É o único dólmen do Alentejo com essa característica e, talvez, até o momento, também o único da Península Ibérica a possuir um orifício intencional e bem preservado no esteio da cabeceira. No entanto, acredita-se que esse orifício esteja relacionado a uma reutilização tardia do monumento.

À esquerda, visão sudeste da Anta da Herdade da Candeeira com o singular orifício no esteio de cabeceira; à direita, Victor ao lado da porta de entrada do dólmen.

À esquerda, Adnir alinhado com a entrada do dólmen e o orifício; à direita, visão mais de perto da entrada da câmara com o orifício no esteio de cabeceira.
E o terceiro monumento que visitamos no caminho para a cidade de Évora foi a Anta da Vidigueira, onde aproveitamos para fazer uma pausa e almoçar o que havia sobrado do jantar do dia anterior. Logo após nossa refeição megalítica, exploramos um pouco mais a estrutura do dólmen, que apresenta uma câmara com cerca de 3 m de diâmetro, formada por sete esteios e com mais de 2 m de altura. A laje de cobertura está faltando uma parte e possui quatorze covinhas gravadas em sua superfície. O corredor tem cerca de 4 m de comprimento, apresenta quatro esteios do lado norte e apenas um do lado sul, sendo ainda visíveis os vestígios da sua mamoa.

À esquerda, portão de entrada da Anta da Vidigueira, local de descanso e almoço do nosso quinto dia; à direita, Vicky e Adnir explorando o interior do monumento.
Depois de deixarmos a Anta da Vidigueira, seguimos, já no meio da tarde, para conhecer o Núcleo Interpretativo do Megalitismo, localizado dentro do Convento dos Remédios, na cidade de Évora. Fundado em 1606, o convento abriga hoje esse espaço dedicado à divulgação e contextualização do vasto património megalítico da região. Instalado na antiga igreja conventual, o centro oferece exposições educativas e recursos interativos que preparam o visitante para explorar os monumentos pré-históricos nos arredores da cidade.

À esquerda, uma das paredes de entrada do museu; à direita um corredor com diversas fotografias de outros monumentos megalíticos e maquetes ilustrativas.

À esquerda, uma das salas do museu; à direita, um texto do historiador e arqueólogo Manuel Calado sobre o megalitismo na Europa Atlântica.

À esquerda, algumas das placas de xisto frequentemente encontradas no interior dos dólmens alentejanos; à direita, dois menires originais de pequeno porte, provenientes de sítios da região.
Foi muito interessante poder conhecer mais detalhes sobre as pesquisas já realizadas nos monumentos que vínhamos visitando, além de poder observar de perto alguns dos artefatos encontrados nos sítios megalíticos. Tivemos ainda a oportunidade de conversar com o recepcionista, que, bastante atencioso, demonstrou-se empolgado com a nossa visita, principalmente ao saber que éramos entusiastas do megalitismo e que estávamos seguindo uma rota de visitas a esses monumentos e que também tínhamos interesse nas pesquisas de arqueoastronomia. Durante a conversa, ele nos contou um pouco sobre suas experiências e nós compartilhamos também brevemente sobre os trabalhos realizados em Florianópolis, mostrando algumas fotos das formações rochosas que acreditamos serem monumentos megalíticos, e ele ficou encantado, principalmente ao ver as fotos do Dólmen da Oração. Depois desse agradável bate-papo e após conhecer tudo que o museu oferecia, seguimos, finalmente, para o então aguardado Recinto Megalítico dos Almendres.
Partindo do centro de Évora, depois de uns 30 minutos, chegamos primeiro ao Menir dos Almendres, localizado a 1,3 km a nordeste do conjunto principal, o Cromeleque dos Almendres. Trata-se de um monólito de 3,50 metros de altura, podendo ter mais de 4 metros de comprimento considerando a parte enterrada. Próximo do seu topo, apresenta uma gravura em relevo com formato de um báculo ou cajado curvo. O menir também apresenta relação astronômica com o Cromeleque dos Almendres. A orientação a partir do menir é no sentido sudoeste, correspondendo à direção do pôr do sol no solstício de inverno e, ao contrário, do cromeleque para o menir, corresponde à direção noroeste, alinhando-se com o nascer do sol no solstício de verão.
Antes da devida identificação e estudo arqueológico, o Menir dos Almendres foi encontrado inclinado, com a base parcialmente cravada no solo, e reerguido, sem os devidos cuidados técnicos, pelo antigo proprietário da herdade (propriedade rural) entre 1959 e o início dos anos 60. Esse procedimento gerou, mais tarde, dúvidas quanto à sua posição original. No entanto, considerando a forma como o menir se encontrava caído, acredita-se que o proprietário, para economizar esforços ao reerguê-lo, não o teria deslocado para longe, recolocando o monólito próximo do local onde estava originalmente.

À esquerda, placas indicativas dos sítios megalíticos; à direita, Terezinha e Adnir no Menir dos Almendres.
Depois de algumas voltas ao redor do menir, avançamos mais 10 minutos de carro e chegamos ao Cromeleque dos Almendres, o maior conjunto de menires da Península Ibérica e um dos mais importantes e antigos de toda a Europa. É o monumento megalítico mais conhecido e visitado de Portugal. Localiza-se na Serra de Montemuro, no topo de uma encosta, a cerca de 200 m de altitude sobre a planície de Évora. O recinto está inserido em um “anfiteatro” natural, aberto, moldado espontaneamente pelo relevo em direção à nascente. Os menires estão dispostos nessa encosta com a linha de maior declive orientada no sentido leste-oeste.

Vicky em frente ao Cromeleque dos Almendres.
O recinto possui atualmente 95 monólitos sobreviventes, cravados verticalmente no solo e de diferentes tamanhos. Cerca de 9 deles apresentam gravuras rupestres em relevo que variam entre formatos circulares, retângulos, crescentes lunares, báculos e linhas onduladas. Considera-se que o conjunto contava com mais menires em tempos antigos. Entretanto, mesmo com alguns desaparecidos e apesar de seus milhares de anos de idade, acredita-se que a configuração que vemos hoje é muito próxima daquela existente no período neolítico.
Esse magnífico monumento, ainda que seja comumente chamado de cromeleque, é designado por alguns estudiosos como recinto megalítico. Isso porque cromeleque significa círculo de pedra, como os encontrados, por exemplo, nas ilhas britânicas. No entanto, o que existe no conjunto dos Almendres não é um círculo, mas sim diversos menires dispostos em uma forma complexa, de aparência elíptica irregular, incluindo arranjos em ferradura, linhas e arcos de menires. Por esse motivo, tem-se preferido nomeá-lo recinto megalítico.
O arquiteto, arqueólogo e professor Mário Varela Gomes, que realizou trabalhos de investigação no Recinto dos Almendres desde meados das décadas de 1980 e 1990, apresentou, em 2002, uma proposta de cronologia para as diferentes fases de construção do monumento, abrangendo do Neolítico Antigo/Médio até o Neolítico Final. E posteriormente, teria sido alvo de destruições por populações estrangeiras e iconoclastas.

Fases da evolução cronológica do Recinto dos Almendres proposto por M.V. Gomes (2002).
Entretanto, o pesquisador e arqueólogo Pedro Alvim (1970-2015), que também dedicou anos de estudos e investigações no Recinto dos Almendres, em sua tese de mestrado em Arqueologia em 2009, argumentou que essas diferentes fases de construção propostas por Mário Varela Gomes carecem de evidências e dados que as comprovem, e que tal ideia não deve passar apenas de uma hipótese. Ao mesmo tempo, Alvim também considera plausível que a disposição atual dos menires seja resultado de sucessivas ampliações do monumento inicial mas propõe argumentos diferentes para um outro possível modelo construtivo de evolução do Recinto.
Por muito tempo, o Recinto Megalítico dos Almendres teve acesso totalmente livre ao público, permitindo caminhar em volta de todos os seus menires. Porém, durante todos esses anos de visitação, somados aos efeitos das chuvas, formou-se uma série de erosões que ameaçavam as estruturas dos monólitos. Diante dessa situação, foi realizada uma força-tarefa de intervenção no local, com o objetivo de preservar o monumento e minimizar os efeitos da degradação. A ação teve início em 2023, com a reposição do solo, adicionando uma camada de terra entre 20 e 25 cm por toda a área do recinto. Posteriormente, foi plantada a sementeira de prado, criando uma cobertura vegetal para deixar o solo mais firme e fortalecer a base de sustentação dos menires. Durante todo esse processo de revitalização, as visitas ficaram interditadas por vários meses, sendo reabertas quase um ano depois, no dia 21 de setembro de 2024, com um novo trajeto de acesso. Por sorte, chegamos duas semanas e meia após a reabertura.
Em nosso primeiro contato com esse fabuloso monumento, tivemos o prazer de contemplar, mais uma vez, um belo final de tarde — só nós e os 95 menires. Novamente, as cores do pôr do sol tingiram as nuvens sobre a paisagem, e todo aquele ambiente exalava um ar de maravilha e encanto. Ficamos até o anoitecer, observando e admirando todo aquele misterioso cenário de pedras, com as estrelas sobre nossas cabeças e sem pressa de ir embora.

À esquerda, visão do plano inclinado do recinto voltado para o leste; à direita, o crepúsculo colorido que marcou o fim do sexto dia de turismo megalítico.
Na manhã seguinte, o plano era voltar bem cedo novamente ao Almendres; porém, uma chuva forte nos fez desistir da ideia. Optamos, então, por descansar um pouco mais e aproveitar o café da manhã em nossa hospedagem, sem a pressa de sair logo cedo, à qual já estávamos habituados.
Depois que a chuva parou, fomos conhecer a Anta Grande do Zambujeiro, o dólmen mais alto do mundo. Já havíamos visto diversas fotos e vídeos desse monumento, mas nada se compara realmente à experiência de vê-lo ao vivo. A dimensão das rochas utilizadas nesse dólmen é surpreendente! A câmara, com mais de 5 m de diâmetro, é formada por sete esteios enormes e conectada a um longo corredor com mais de 8 m de comprimento. A estrutura possui, internamente, o comprimento total de 14,5 m em seu eixo longitudinal, partindo do centro do esteio de cabeceira até o centro da entrada externa do corredor.
As rochas graníticas utilizadas para formar a câmara possuem cerca de 6 m de altura e pesam várias toneladas. O peso oficial parece nunca ter sido cientificamente comprovado. Especula-se que cada bloco pese, em média, cerca de 15 toneladas, embora alguns pesquisadores acreditem que possam ser ainda mais pesados — talvez até o dobro. Principalmente a laje de cabeceira, que é impressionantemente grande! A pedra de topo, que cobria essa ampla câmara, possuía também, cerca de 6 metros de comprimento. Foi removida com um guincho mecânico e dois guinchos manuais durante as escavações dos anos 1960, realizadas por Henrique Leonor Pina, e encontra-se hoje fraturada a poucos metros da câmara, na parte de trás do monumento. O dólmen, inicialmente, também era totalmente coberto por sua imensa mamoa, que possui mais de 30 m de diâmetro, ainda hoje bem visível em seu entorno, apesar das escavações realizadas décadas atrás.

À esquerda, visão oeste da Anta Grande do Zambujeiro, com Vicky e Terezinha no corredor de acesso do dólmen; à direita, Vicky sobre o imponente esteio de cabeceira da câmara.

À esquerda, Terezinha e Vicky sobre o grande esteio-mestre do fundo da câmara; à direita, visão leste da câmara a partir do esteio de cabeceira.
Infelizmente, a Anta Grande do Zambujeiro tem sido considerada por alguns o dólmen mais azarado de Portugal, como mencionou o arqueólogo Mário Carvalho, pois o monumento possui uma triste história moderna. Depois de milhares de anos de sossego, foi descoberto e escavado, como mencionado antes, durante os anos 1960 de forma muito primitiva e um tanto descuidada, causando diversos danos irreversíveis à estrutura do monumento. Nos anos 1980, foi anexada uma cobertura com a intenção de proteger o dólmen das chuvas; porém, foi mal projetada, com largura muito estreita, fazendo com que a água escoasse pelo telhado e criasse ainda mais erosões em torno do monumento. Hoje em dia, o dólmen corre sérios riscos de colapsar, e o atual estado de abandono causa indignação em relação a um monumento tão especial e extraordinário. Trata-se de uma vergonha para as autoridades governamentais de Portugal e um péssimo exemplo para o turismo e a preservação do patrimônio cultural. Essa situação vem preocupando diversos grupos de pessoas, pesquisadores e simpatizantes que há anos clamam por ajuda ao governo, solicitando a atenção devida e o financiamento necessário para cobrir os custos dos trabalhos de intervenção e impedir que o dólmen mais alto do mundo colapse.

Visão sul da Anta Grande do Zambujeiro.
Deslumbrados com a magnitude da Anta Grande do Zambujeiro, seguimos por cerca de 10 minutos de carro até a Anta 1 da Herdade do Barrocal, que possui uma câmara com 3 m de diâmetro e mais de 2 m de altura, formada por sete esteios e uma laje de cobertura. Do corredor restam apenas dois esteios fraturados, e a mamoa encontra-se totalmente destruída.

À esquerda, visão oeste da Anta 1 da Herdade do Barrocal; à direita, parte de trás do dólmen, com belas marcas geológicas nos esteios.
Em seguida, fomos conhecer o dólmen cristianizado, a Anta de São Brissos, também conhecida como Anta-Capela de Nossa Senhora do Livramento. Trata-se de um dólmen com aproximadamente 3 m de altura, transformado em capela no século XVII e dedicado à Nossa Senhora do Livramento, associada a uma lenda local que teria influenciado a construção dessa pequena igreja. Do monumento megalítico original, que correspondia a um dólmen de grandes dimensões com uma câmara de 4 m de diâmetro e um corredor, restaram apenas três esteios e parte da laje de cobertura. Ao lado da capela, o esteio tombado sobre o solo corresponde, talvez, à rocha removida para dar lugar à atual porta de entrada da capela. Na arquitetura da capela fundida com o dólmen, alguns dos esteios estão visíveis juntamente com a pedra de topo, que cobre a entrada do monumento, e ao redor encontram-se alguns restos das rochas que faziam parte da estrutura original. Infelizmente, no momento da nossa visita, a capela estava fechada; assim, ficamos dando algumas voltas ao redor da estrutura e contemplando aquela estranha fusão entre capela e dólmen.

À esquerda, Terezinha e Vicky contemplando a Anta-Capela de São Brissos; à direita, visão sudoeste do dólmen transformado em capela.
A nossa próxima parada foi o Núcleo Museológico do Convento de São Domingos, na cidade de Montemor-o-Novo. É uma antiga e bela igreja, fundada no século XVI, que hoje se transformou em museu. Nos fundos do convento, há uma sala dedicada à exibição de importantes artefatos e conjuntos de peças arqueológicas encontradas nos monumentos megalíticos da região, além de fotos, mapas, ilustrações e cronologia das épocas pré-históricas.

À esquerda, entrada do Núcleo Museológico do Convento de São Domingos; à direita, parte da sala dedicada à arqueologia e ao megalitismo.
O museu, além de exibir diversos materiais encontrados dentro dos dólmens da região, oferece também uma rica coleção com peças que abrangem desde o Paleolítico até à Idade Média, mostrando a longa trajetória histórica do interior do Alentejo. Mais uma vez, foi muito interessante ver de perto os artefatos e conhecer mais detalhes sobre as pesquisas e descobertas realizadas nesses monumentos tão intrigantes. O museu também abriga salas de olaria, arte sacra, etnografia, entre outras exposições.

Alguns dos artefatos expostos na sala dedicada à arqueologia.
Depois da visita ao museu, saímos rapidamente para dar continuidade ao nosso roteiro, pois ainda tínhamos dois lugares muito especiais para conhecer naquele mesmo dia, e estávamos bastante empolgados: os Recintos Megalíticos Portela de Mogos e Vale Maria do Meio, dois importantes agrupamentos de menires em ótimo estado de preservação.
A maior expectativa estava em conhecer o Recinto Portela de Mogos, que se encontra “escondido” entre as árvores, sem sinalizações ou placas informativas indicando sua localização ou o acesso ao terreno. Graças à localização no Google Maps, conseguimos identificar pelo Street View o ponto mais próximo para entrar no terreno de onde se situa o recinto megalítico. Sabíamos que, em algum momento da avenida, encontraríamos um pequeno acostamento e uma discreta entrada entre as cercas que dá acesso ao local. Não tínhamos certeza se o sinal de internet funcionaria ali para consultar o mapa, então mantivemos a tela dos celulares sempre ativa e aberta, para acompanhar nossa posição e garantir que, mesmo sem sinal, não nos perderíamos. Embora o monumento esteja relativamente próximo da estrada e não fosse difícil de encontrar, queríamos evitar qualquer atraso ou demora, pois precisávamos chegar rapidamente para aproveitar aquele belo recinto.
O dia estava avançando, ainda havia outro monumento a visitar e não teríamos outra oportunidade de voltar. Seguindo o mapa, encontramos o acostamento exatamente como previsto. Não havia qualquer sinalização, apenas terrenos cercados por vegetação; uma pessoa desinformada jamais desconfiaria que, a poucos metros dali se encontra um importante conjunto de menires. Deixamos o carro à beira da estrada, adentramos o terreno e, sem nenhuma placa informativa, começamos a caminhar com nosso “faro megalítico” ativado. Alguns minutos depois, ao subir uma pequena elevação, nossos olhos se depararam, entre as árvores de cortiça, com rochas acinzentadas cobertas de líquen, lapidadas e cravadas verticalmente no solo — os menires sobreviventes daquele espetacular recinto, testemunhos de milhares de anos de história. Extasiados com a emoção do primeiro contato visual, seguimos em direção ao monumento, com a sensação de estar entrando em um espaço sagrado. Entramos no recinto, deixamos nossas coisas em um canto e começamos a caminhar entre os menires, procurando contemplar cada detalhe. O conjunto possui aproximadamente 40 menires de diferentes tamanhos, distribuídos em uma área relativamente pequena. Vários dos monólitos já haviam sido reerguidos em trabalhos de restauração.
O Recinto Megalítico Portela de Mogos encontra-se assentado no topo de uma encosta suave e voltada à nascente, lembrando o Recinto dos Almendres. A maioria dos menires está disposta em uma elipse irregular, com cerca de 15 m no eixo maior, quase orientada no sentido leste-oeste, e 12 m no eixo menor. No interior dessa elipse, uma sequência de cinco menires, sendo um deles o de maiores dimensões, marca o eixo Norte-Sul. A leste, um grupo de aproximadamente seis monólitos se estende por cerca de 30 m de comprimento. No centro, destaca-se o maior menir do conjunto, com cerca de 3 metros de altura, impondo-se fortemente sobre os outros que o cercam. Alguns monólitos apresentam decorações em suas superfícies, difíceis de serem percebidas à primeira vista. As figuras gravadas, em alguns dos menires, incluem rostos estilizados, representações de báculos, meia-lua, linhas onduladas, ziguezagues e formas circulares. Além disso, cerca de seis menires apresentam faces planas, talhadas após a sua ereção, dando-lhes a forma de estela, e em quatro deles possuem representações antropomórficas. À medida que circundávamos o local, era inevitável pensar novamente naqueles ancestrais que o construíram e que ali estiveram há milhares de anos. Refletíamos sobre como aqueles povos utilizavam esse espaço, o que essas pedras já presenciaram e o que significavam para eles.

À esquerda, visão sudeste do Recinto Portela de Mogos; à direita, visão noroeste.

À esquerda, Adnir procurando vestígios de gravuras no menir de maior estatura do recinto; à direita, visão sudoeste do Recinto Portela de Mogos.
Depois de ziguezaguear todos os menires e contemplar todo aquele ambiente por quase todas as direções possíveis, era hora de seguir para o próximo monumento, o Recinto Vale Maria do Meio, localizado a pouco mais de 1 km de distância. Então, nos despedimos do Recinto Portela de Mogos e deixamos a paz daquele lugar novamente recair sobre as pedras silenciosas. Depois de voltar para o nosso carro, em poucos minutos já estávamos novamente em outro cenário megalítico, que mexe com o nosso intelecto e estimula a nossa imaginação. Trata-se de um conjunto alongado, suavemente orientado a leste-oeste, em um terreno também sutilmente inclinado à nascente, com cerca de 37 m de comprimento por 25 m de largura. Antes da escavação arqueológica, no verão de 1995, os menires foram numerados de 1 a 33 e, no decorrer dos trabalhos, foi descoberto o menir 34. De todos os menires, apenas 2 apresentam gravuras.

À esquerda, Vicky e Terezinha contemplando os menires do Vale Maria do Meio; à direita alguns dos menires que compõe a parte oeste do recinto.
À medida que explorávamos o recinto Vale Maria do Meio, o clima mais uma vez nos presenteou com um belo pôr do sol, que iluminava os menires com um tom dourado. E assim, finalizamos mais um dia de visitas, cheio de experiências encantadoras nos megálitos do Alentejo Central.

À esquerda, um dos menires com decorações iluminado lateralmente pelo sol, criando o efeito de luz e sombra nos relevos gravados; à direita, o pôr do sol entre os menires 11 e 17.
Na manhã seguinte, iniciamos o nosso oitavo dia de vivências megalíticas para apreciar novamente o Recinto dos Almendres e contemplar um belo nascer do sol. Permanecemos mais de 2 horas a sós com o lugar, nos alongamos, tomamos café da manhã e ficamos caminhando em volta de todo aquele cenário mágico. À medida que o sol ascendia em seu percurso no céu, trazendo calor ao dia, acompanhados pelo som dos pássaros, admirávamos incansavelmente os mais de 90 menires que ali estão há cerca de 7 mil anos. E novamente todas aquelas reflexões vinham à nossa mente, com a sensação de que não havia nada mais importante do que aquela paisagem repleta de monólitos cravados verticalmente no solo, apontados para a abóbada celeste.

Primeira hora de sol no Recinto Megalítico dos Almendres.

À esquerda, visão leste do recinto; à direita, nota-se a inclinação natural do terreno onde estão os menires.

Visão oeste do recinto dos Almendres.
Depois desse início de manhã especial, nos despedimos daquele jardim de pedras, que parecia ter saído dos contos de fadas, para dar continuidade ao nosso roteiro, pois tínhamos mais um dia cheio de visitas a outros monumentos megalíticos da região. Mas, antes, fizemos uma parada no Centro Interpretativo dos Almendres para conhecer e comprar alguns souvenirs. O local dispõe de serviços educacionais, conteúdos explicativos sobre arqueologia, natureza e também diversos livros e materiais de pesquisa sobre os monumentos megalíticos de Portugal.

Imagens do site oficial https://www.eboramegalithica.com/almendres
Logo após um café e boas conversas com a arqueóloga que nos recepcionou, nos despedimos e seguimos por aproximadamente 30 minutos de carro até chegarmos à Anta Grande da Comenda da Igreja, localizada no povoado de São Geraldo, no município de Montemor-o-Novo. É um imponente dólmen em bom estado, com um longo corredor de cerca de 11 m de comprimento e uma câmara com aproximadamente 4,5 m de diâmetro, formada por oito grandes esteios e coberta por uma laje, atualmente fraturada, que, segundo uma crença local, teria se partido após ser atingida por um raio. Esse dólmen, assim como provavelmente muitos outros, serviu, até não muito tempo atrás, como abrigo de pastores e malteses (no Alentejo, o termo “maltês” era usado para se referir a pessoas em situação de rua que viajavam pela região). Embora o local também já tenha sido alvo de pesquisas e escavações arqueológicas, nas quais diversos objetos foram recolhidos, enquanto Adnir explorava o corredor, encontrou uma peça lítica que parecia um tipo de machadinho. Ele fotografou o artefato com a régua de escala arqueológica e deixou-o no local, acrescentando um registro inusitado à nossa visita.

À esquerda, Victor sobre os restos da mamoa que cobria toda a Anta Grande da Comenda da Igreja; à direita, Adnir e Terezinha dentro da câmara do dólmen.

À esquerda, visão interna da câmara com a laje de cobertura quebrada; à direita, Adnir e o objeto lítico encontrado por ele.
Seguimos o nosso trajeto, passando por mais alguns dólmens que estavam pelo caminho, ao lado da estrada, e, minutos depois, já estávamos adentrando a rua de acesso à propriedade particular de onde está localizado o Recinto Megalítico Cruciforme do Alto da Cruz. Depois de abrir e fechar alguns portões, que por sorte estavam destrancados, e graças também à ajuda do GPS, conseguimos encontrar esse conjunto único e especial de menires. O recinto foi descoberto em 2011, escavado e restaurado em 2012, e é constituído por seis menires dispostos em forma de cruz, o único em toda a Península Ibérica nesse estilo. O monumento situa-se junto ao topo da encosta voltada à nascente, em uma suave elevação. Quando encontrado, os menires estavam tombados, quatro deles ao longo de uma linha com 9 m, com orientação aproximada de norte‑sul (com desvio de 5º para leste), e os outros dois, cruzando esses, formando uma linha leste‑oeste, com 4 m. Os menires do recinto possuem entre 1,90 m e 1,07 m de comprimento, e largura entre 95 cm e 60 cm, sendo que quatro deles apresentam diversas marcas de covinhas.

Visão geral do Recinto Megalítico Cruciforme do Alto da Cruz. À esquerda da foto, o vértice geodésico do Alto da Cruz, curiosamente implantado a 4 m a oeste do centro do monumento.
Antes da descoberta desse recinto, no ano de 2002, um menir situado a 300 m a leste do monumento foi encontrado também tombado, com a base semicravada no solo, medindo 2,20 m de comprimento total e 80 cm de largura máxima. Ele foi intitulado Menir do Alto da Cruz e, posteriormente, com a descoberta do recinto, foi renomeado como Menir 7 do conjunto do Alto da Cruz. Esse menir é decorado com cerca de 50 covinhas, algumas delas unidas.

À esquerda, visão sul do recinto; à direita, Adnir ao lado do Menir 7 do conjunto do Alto da Cruz.
A nossa próxima parada foi no Recinto Megalítico das Fontainhas, localizado a 10 km (em linha reta) ao norte do Recinto Cruciforme. O recinto das Fontainhas foi descoberto na década de 1970 e, anos mais tarde, na década de 1990, foram identificados mais dois menires afastados do conjunto. Em 2005, o local foi escavado, estudado e restaurado, recolocando os menires de volta na posição vertical, exceto o maior do conjunto, que se encontrava partido na base; a restauração foi concluída no ano seguinte. Trata-se de um complexo megalítico formado por oito menires, com um recinto de seis monólitos dispostos em arco aberto à nascente, destacando-se, razoavelmente no centro, o menir de grandes dimensões que estava partido, medindo aproximadamente 4 m. Os outros dois menires afastados apresentam o mais pequeno do conjunto, com 1,20 m de altura, situado a 15 m entre o norte e o nordeste do recinto, e o outro, com cerca de 1,70 m de altura, localizado a aproximadamente 70 m para nordeste.

À esquerda, Victor ao lado do menir de maior estatura do Recinto das Fontainhas e, no canto esquerdo da foto, nota-se, do outro lado da rua, o pequeno Menir 7, afastado do recinto; à direita, o Menir 8, que está a cerca de 70 m do recinto.
Permanecemos no Recinto das Fontainhas por cerca de 1 hora, examinando cada menir do monumento, comemos algumas frutas, caminhamos mais um pouco e a vontade era de permanecer o resto do dia ali mesmo, descansando e contemplando aquele conjunto. Mas, felizmente, tínhamos que seguir em frente. Cerca de 15 minutos depois, já estávamos em nosso próximo monumento, a Anta Grande da Ordem 1.
Esse dólmen integra-se numa área composta por quatorze monumentos dispostos ao longo de ambas as margens do córrego da Ribeira de Almadafe, principalmente com as oito Antas da Ordem, com as quais mantém relação visual direta. O Dólmen Grande da Ordem 1 encontra-se cercado, dentro de uma propriedade particular, possui uma portinha de acesso e está parcialmente coberto de vegetação. Depois de contemplar por fora a estrutura dos esteios e a espessa laje de cobertura, passamos pelo mato e adentramos em seu interior. Nos acomodamos na câmara e ali permanecemos por um momento, apreciando os feixes de sol que se projetavam entre os esteios para dentro do dólmen. O monumento possui uma câmara com 3,30 m de comprimento e 3,60 m de largura, formada por sete esteios, e a espessa rocha de cobertura possui cerca de 3 m de diâmetro. O corredor, com 6,10 m de comprimento, conserva 15 esteios: sete no lado sul e oito no lado norte. Entre os diversos materiais arqueológicos encontrados dentro desse dólmen, destacam-se 18 placas de xisto.

À esquerda, Vicky, e à direita, Adnir, ao lado da Anta Grande da Ordem 1.

À esquerda, Adnir apreciando o calor do sol por dentro do dólmen; à direita, Vicky do lado de fora dos esteios da câmara.
Próximo desse local nossa seguinte parada seria conhecer o Recinto Megalítico de Vale d’El Rei e o Conjunto Megalítico do Monte de Têra, dois monumentos também de estilos únicos em toda a região. Entretanto, no caminho, logo que saímos da estrada principal para avançar por uma rua de terra que dá acesso a esses monumentos, nos deparamos com o portão, desta vez trancado, com diversas placas proibindo o acesso, aviso de área monitorada etc. Ficamos bastante chateados, mas sabíamos que havia essa possibilidade de o portão estar fechado, pois muitos desses monumentos estão em propriedades particulares e alguns proprietários não permitem o acesso livre.
Ficamos sabendo, através do recepcionista que conhecemos no museu da cidade de Évora, que os donos dessas propriedades não poderiam impedir a visitação ao patrimônio; parece até existir uma lei que diz isso, segundo o que ele nos contou. Havíamos sido informados também que, nesses lugares particulares onde os portões e cercas estão fechados, mas destrancados, podemos entrar desde que tomemos o cuidado de fechar o portão de volta, para que os animais da propriedade não saiam, e logicamente, ao ver alguém, pedir licença e informar a visita. No entanto, com o portão trancado, não avistamos ninguém para pedir autorização de entrada. Chegamos a cogitar pular o muro e ir a pé, mas estávamos ainda um pouco afastados dos monumentos e levaria tempo para ir e voltar; além disso, pelos vários avisos no portão, se o dono nos encontrasse lá dentro, poderia gerar uma situação desagradável. Então, infelizmente, tivemos que desistir da visita e seguir para o próximo e último monumento desse dia.

Adnir e o portão trancado.
Fomos, então, para a Anta-Capela de São Dinis, também chamada de Anta-Capela de Pavia, localizada bem próxima de onde estávamos. Trata-se de um dólmen cujo cenário foi totalmente alterado, situado hoje em pleno contexto urbano, no centro da vila de Pavia, no município de Mora, distrito de Évora. É mais um caso típico em Portugal em que o dólmen foi cristianizado e transformado em capela no século XVII, nesse caso dedicado a São Dinis. Nessa transformação, o nível do solo dentro da câmara foi elevado e, sobre ele, construído um altar revestido de azulejos; no lado externo, foi edificado um pequeno campanário. O monumento apresenta uma câmara com cerca de 4 m de diâmetro, formada por sete esteios com mais de 3 m de altura. Do corredor, que localizava-se aproximadamente no alinhamento da atual entrada da capela e hoje desaparecido, foram apenas identificados vestígios das marcas de alguns dos seus esteios no decorrer das escavações realizadas em 2013. Apesar de se tratar de uma paisagem um tanto bizarra, ver aquele dólmen em tal ambiente era, ao mesmo tempo, agradável à aparência da vila, e permanecemos ali por um tempo, contemplando o que restava da estrutura daquele grande dólmen, em um belo final de tarde.

À esquerda, visão frontal da Anta-Capela de São Dinis; à direita, Terezinha e Victor ao lado dos grandes esteios na parte sul do dólmen.
Na manhã seguinte, em nosso nono dia de turismo megalítico — e o último dedicado às visitas aos monumentos de Portugal —, deixamos o centro de Évora e seguimos para o município de Reguengos de Monsaraz, a fim de conhecer alguns dos monumentos da região de Monsaraz. Após aproximadamente 50 minutos de carro, chegamos ao Menir de Santa Margarida, um grande monólito com cerca de 3 m de comprimento, situado à margem da estrada. Embora apresente sinais de afeiçoamento, com uma forma suavemente cônica, sua aparência é mais natural do que a dos outros menires que havíamos visitado até então. As faces voltadas a norte e a oeste apresentam 25 covinhas gravadas e, no lado sul, foram identificados restos de ornamentação onde é possível notar a forma de um báculo em relevo.

À esquerda, Victor e Terezinha; à direita, Adnir ao lado do Menir de Santa Margarida.
Em seguida, nos dirigimos ao Menir do Barrocal, situado a 1,7 km de distância. É considerado uma estela-menir de grande estatura, por possuir diversas decorações gravadas, compostas por motivos ziguezagueantes, serpentiformes, linhas ondulantes, círculos, covinhas e um báculo, que teriam sido esculpidos em diferentes épocas desde os tempos antigos. Formado a partir de um único bloco, com mais de 5 m de altura, sendo também um dos mais altos da Península Ibérica. Apresenta uma forma oval achatada, com mais de 1,5 m de largura na parte mais espessa. O menir foi encontrado tombado em 1993 e reerguido em 2006.

À esquerda, Adnir olhando uma das faces da Estela-Menir do Barrocal; à direita, Vicky, Adnir e Terezinha.
É curioso, conforme mostram os resultados dos trabalhos realizados em 1995 por Mário Varela Gomes, que a área envolvente da estela-menir do Barrocal integrava um possível recinto de planta oval, definido por grandes blocos ou afloramentos rochosos. Verificou-se que a estela-menir foi erguida numa área que teria sido artificialmente nivelada e limpa, e que esse espaço era delimitado, nos lados sudeste, sudoeste e noroeste, por blocos de rocha — naturais ou talvez talhados pelo ser humano — formando assim um tipo de recinto estruturado. Já o lado nordeste não tinha pedras visíveis, provavelmente porque foram removidas ou desapareceram com o tempo, já que o terreno ali foi preenchido para nivelar o solo, criando um talude que o igualava ao restante do espaço. Essa zona também é cortada por um caminho moderno, que pode ter danificado parte da estrutura original. É possível também que esse menir constituísse, juntamente com o Menir de Santa Margarida, algum tipo de alinhamento astronômico especial, como sugere M. V. Gomes, na direção do pôr do sol no solstício de verão.
Esse possível recinto, teria sido estruturado com base em dois afloramentos rochosos, um no canto noroeste e outro no sudeste, alinhados com a base da estela-menir. Essa linha, com orientação noroeste-sudeste, junto com a sua perpendicular (que também passa pela base do menir), formava os eixos principais da arquitetura do monumento. Além disso, teria havido outros dois eixos secundários, orientados norte-sul e leste-oeste, marcados por grandes blocos ou afloramentos, um deles com várias covinhas gravadas na superfície. O recinto, no total, media cerca de 72 metros no eixo maior e 60 metros no eixo transversal.

Planta do recinto que poderia ter integrado a Estela-Menir da Herdade do Barrocal (seg. M. V. Gomes).
Logo depois, e também nas proximidades, visitamos a Anta 2 do Olival da Pega, situada em meio a antigas oliveiras. Este dólmen é formado por sete esteios e uma grande laje de cobertura. Possui um corredor excepcionalmente longo, com cerca de 16 metros de comprimento, provavelmente o mais extenso de todo o território português. Junto a esse longo monumento foram acrescentados, em períodos posteriores a construção original, quatro estruturas anexas ao corredor, três dos quais com características de tholoi. Atualmente, o corredor e as demais áreas anexas, encontram-se totalmente soterrados, restando apenas vestígios visíveis da superfície de algumas das lajes de cobertura.

À esquerda, Terezinha e Vicky dentro da câmara da Anta 2 do Olival da Pega; à direita, vista geral da Anta 2 do Olival da Pega durante as escavações de 1992.
Este monumento está associado à Anta 1 do Olival da Pega, localizada cerca de 200 m a oeste. Embora bastante destruída, a Anta 1 ainda conserva seus imponentes esteios, evidenciando a grandiosidade da construção. Juntas, essas duas estruturas compõem o chamado Conjunto Megalítico do Olival da Pega. O que torna esses monumentos particularmente notáveis é a grande quantidade de artefatos arqueológicos neles encontrados, com mais de 130 placas de xisto gravadas, mais de 60 recipientes cerâmicos completos, de morfologias e dimensões variadas, estatuetas zoomorfas e diversos outros objetos.
Seguimos depois para o controverso Recinto Megalítico do Xerez, um conjunto com mais de 50 monólitos de pequenas dimensões, dispostos em forma quadrangular, e com um grande menir ao centro, com mais de 4 m de comprimento total (considerando a parte enterrada). Esse monumento não se encontra mais em seu local original: estava a cerca de 5 km ao sul de Monsaraz, foi descoberto em 1969 com os menires tombados e, em 1972, foi reinstalado em forma já quadrangular. Em 2001, devido à construção da Barragem de Alqueva para fins hidroelétricos, o monumento situava-se em uma zona de alagamento, e todo o conjunto foi desmontado e retirado do local. As pedras ficaram guardadas durante alguns anos até serem fixadas novamente, em 2004, no endereço atual.

Visão geral do Recinto Megalítico do Xerez, um local que perdeu sua sacralidade e também a possibilidade de, além das escavações arqueológicas, investigar possíveis relações astronômicas.
A problemática do Recinto Megalítico do Xerez remonta já à época de sua descoberta, pois o conjunto estava completamente desmantelado, com alguns dos monólitos deslocados pela maquinaria agrícola que os retirou de seus locais originais quando foram identificados. Os menires encontravam-se, então, caoticamente amontoados e, pelo que se consta, a restauração realizada em 1972 careceu de métodos científicos e de provas suficientes para fundamentar a posição original do monumento. Isso gerou diversas controvérsias, sendo o conjunto considerado erroneamente reconstruído, um tanto fantasioso e até chamado de absurdo o formato escolhido em planta quadrangular/retangular. O local original encontra-se inundado até hoje devido à barragem, perdendo-se para sempre a possibilidade de futuras investigações e os vestígios de seu antigo formato autêntico.

À esquerda, Adnir ao lado do menir central do Recinto do Xerez; à direita, Vicky ao lado do segundo menir mais alto do conjunto.
Aproveitamos para fazer uma pequena pausa e almoçar, como de costume, o restante do jantar do dia anterior, contemplando aquela paisagem megalítica do Xerez e imaginando como teria sido a sua forma original no passado distante. Em seguida, fomos conhecer o Menir da Bulhoa e o Menir do Outeiro, que também se encontravam bem próximos.
O Menir da Bulhoa, também chamado de Abelhoa, foi encontrado já caído e fraturado, medindo 2,75 m de comprimento, não sendo possível recuperar sua base original. Em 1970, foi reerguido sobre uma nova base de granito, numa tentativa de restituir sua altura original. Apesar de estar bastante erodido, apresenta diversas gravuras inscritas em sua face. O Menir do Outeiro, localizado a apenas 1,3 km de distância do Menir da Bulhoa, foi igualmente encontrado tombado, medindo mais de 5 metros de comprimento e cerca de 1 metro de diâmetro, e reerguido em 1969, sendo também um dos mais altos da Península Ibérica.

À esquerda, Terezinha e Adnir no Menir da Bulhoa; à direita, Victor, Terezinha e Adnir no Menir do Outeiro.
Depois de visitar esses dois menires, seguimos nosso roteiro e nos afastamos um pouco de Monsaraz. Fomos até a região de Santiago Maior, no município vizinho de Alandroal, para conhecer a monumental formação rochosa chamada Pedra Alçada, também conhecida como Pedra do Galo. Essa imensa rocha possui cerca de 10 metros de altura e 6 metros de diâmetro, sendo considerada um afloramento granítico natural. Entretanto, há quem defenda que se trata de um sistema construído pelos antigos povos e a divulgue como um monumento megalítico. Contudo, não encontramos nenhum trabalho sério e científico que apresentasse essa formação rochosa como obra do megalitismo. Além disso, estaria totalmente fora dos padrões encontrados em toda a região do universo megalítico eborense e da Península Ibérica. De qualquer forma, é uma formação rochosa que evoca uma forte presença e, com certeza, deve ter mexido com o imaginário dos ancestrais que a encontraram.
A origem do nome “Pedra do Galo” possui mais de uma explicação: uma das versões conta que, antigamente, um galo costumava cantar do topo da rocha, dando origem à associação simbólica; mais tarde, alguém teria colocado um galo de ferro no alto do monumento, o qual teria sido destruído em 1974, durante a Revolução Portuguesa. Outra versão diz que, em vez do galo, o que existia no cume era uma cruz metálica, também removida ou destruída com o tempo.

À esquerda, Victor contemplando o lado norte da imensa Pedra Alçada/ Pedra do Galo; à direita, Adnir, Terezinha e Vicky.
Nesse dia, tivemos de interromper mais cedo a nossa tarde de visitas devido ao check-in antecipado da nova hospedagem e principalmente por conta da forte chuva, que nos atingiu enquanto estávamos na Pedra Alçada. Aproveitamos, então, para descansar um pouco, já que no dia seguinte, teríamos que sair cedo e percorrer um longo trajeto de quase 300 km de estrada.
No entanto, como a nossa hospedagem se encontrava a somente 750 m do Menir da Bulhoa, e como esse monumento possui diversas gravuras, não pensamos duas vezes e decidimos retornar à noite para explorar, com a luz da lanterna, os desenhos em relevo inscritos no menir. Então, depois de jantarmos, fomos novamente ao encontro do Menir da Bulhoa. Visitar esses locais à noite é sempre uma experiência excitante e comovente. Com as estrelas e a lua sobre o céu, apontamos a lanterna para o menir, rompendo a escuridão e trazendo à tona aqueles relevos sagrados dos povos antigos. Com a luz da lanterna projetando por diferentes ângulos, pouco a pouco fomos contemplando todo o conjunto decorativo, representado por símbolos de um círculo raiado na parte superior, um báculo, linhas ondulantes, ziguezagues e serpentiformes.

À esquerda, Vicky iluminando os desenhos decorativos do Menir da Bulhoa; à direita, a outra face do menir, com mais vestígios de gravuras, e a Lua em fase crescente ao fundo.
No dia seguinte, por volta das 5h da manhã, embarcamos para o grand finale do nosso roteiro e pegamos a estrada rumo ao maior dólmen do mundo, o Dólmen de Menga! Foram cerca de 6 horas de carro, pois tivemos que fazer algumas paradas por conta das fortes chuvas que pegamos no caminho, até chegarmos à cidade de Antequera, na província de Málaga, em Andaluzia, comunidade autônoma no sul da Espanha. Ao chegar, fomos direto para o Conjunto Arqueológico Dólmenes de Antequera, onde estão o Dólmen de Vieira, o Dólmen de Menga e o museu. O complexo de visitação também inclui o Tholos de El Romeral, que está um pouco mais afastado, cerca de 1,5 km de distância.
Entramos por volta das 11 horas da manhã. O local estava bastante movimentado; pegamos nossos ingressos e fomos, primeiramente, conhecer o Dólmen de Menga, o mais antigo dos grandes dólmens da Península Ibérica (aproximadamente 5800–5600 anos atrás). Aqui, as proporções extrapolam tudo o que havíamos visto até então; nenhum outro dólmen se comparava ao que estávamos contemplando. Gigantesco, descomunal, ciclópico… todos esses adjetivos podem ser utilizados ao mesmo tempo para descrever o tamanho dos blocos de pedra que formam a estrutura desse extraordinário monumento.

À esquerda, Adnir em frente à entrada do imenso Dólmen de Menga; à direita, Vicky contemplando a enorme C1, a primeira das cinco lajes que cobrem o corredor.
Localizado no topo de uma suave colina, com aproximadamente 50 m de altura sobre a planície, o Dólmen de Menga é composto atualmente por 32 blocos megalíticos: 24 dispostos na vertical, 5 formando a cobertura e 3 colunas de apoio — considera-se que haveria um quarto pilar na entrada — que sustentam o espaço interno em forma de galeria. Sua largura máxima possui mais de 5 m; a altura varia em cerca de 2,50 m na entrada e 3,45 m no fundo da câmara; o corredor possui uma extensão axial de 24,90 m. Essa fenomenal estrutura é coberta por uma camada artificial de terra com cerca de 50 m de diâmetro.

À esquerda, interior do corredor com os três pilares de sustentação; à direita, Victor, Terezinha e Adnir deslumbrando o interior da câmara.
Um dos fatos mais impressionantes dessa estrutura é que a pedra mais pesada do conjunto — que cobre o teto do fundo da câmara, chamada C5 — com 6,95 m de largura, 6 m de comprimento e 1,88 m de espessura, tem um peso estimado em cerca de 150 toneladas! É considerada a maior pedra já movida no fenômeno megalítico da Península Ibérica e a segunda maior de toda a Europa, sendo ultrapassada apenas pelo Grand Menhir Brisé, no sul da Bretanha, na França.

À esquerda, Victor ao lado da terceira coluna, que sustenta as duas imensas lajes de cobertura, C4 e C5; à direita, o fundo da galeria, com a gigantesca C5 sobre o teto.
Para se ter uma melhor noção da grandiosidade deste monumento, o peso estimado de todas as pedras do Dólmen de Menga, consideradas coletivamente, chega a cerca de 1.140 toneladas — mais pesado do que dois aviões Boeing 747, totalmente carregados com combustível e passageiros! Não à toa, é considerado o monumento megalítico mais colossal construído em toda a Europa pelos antigos povos do Neolítico. Cada uma dessas imensas rochas foi moldada e encaixada com impressionante precisão. O local mais provável de onde todas essas grandes rochas foram extraídas é um afloramento rochoso no Cerro de La Cruz, situado em uma altitude superior ao terreno onde o dólmen foi erguido.
O transporte desses blocos gigantescos ocorreu em ângulo de descida, ao longo de uma inclinação suave, percorrendo cerca de 1 km. A rocha utilizada, predominantemente calcarenito, não é muito resistente, o que certamente tornou o processo ainda mais desafiador, exigindo extremo cuidado na extração, movimentação e encaixe. Não há dúvida de que levar essas imensas pedras do Cerro de la Cruz até a colina de Menga demandou planejamento avançado, logística precisa e grande quantidade de mão de obra. Além disso, posicionar todos os blocos em seus lugares demonstra uma maestria impressionante, já que os antigos construtores não tinham margem para erros.
Diferente da maioria dos dólmens ibéricos, que se alinham geralmente ao nascer do sol em pontos do horizonte, Menga está voltado para uma referência terrestre marcante. O corredor funciona como uma espécie de mira visual, apontando para o monte de La Peña de los Enamorados, uma formação rochosa de perfil antropomórfico que lembra uma cabeça humana reclinada, onde há pinturas rupestres datadas de aproximadamente 5800 a 5600 anos atrás. Esse alinhamento sugere que a montanha tinha um papel ritual ou mítico central para as comunidades que ergueram o Dólmen de Menga.

À esquerda, visão interna do corredor alinhado com o Monte de La Peña de los Enamorados; à direita, representação artística do perfil antropomórfico do monte – Fonte: https://www.canalsur.es/television/dolmen-de-menga-una-puerta-a-la-pena-de-los-enamorados/1897187.html
Outro aspecto curioso do Dólmen de Menga é o poço de água subterrânea com 19,5 m de profundidade, localizado atrás da terceira coluna, no fundo da câmara. Mencionado já no século XIX e posteriormente preenchido com diversos resíduos e detritos, permaneceu oculto e esquecido por décadas, até ser redescoberto na primavera de 2005. Devido ao risco que representava para a segurança da equipe responsável e à falta dos meios técnicos necessários para prosseguir, a escavação foi interrompida, e apenas os primeiros 6 m do aterro foram retirados. No mesmo ano, entre o final de 2005 e o início de 2006, por meio da instalação de um sistema de segurança adequado, foi possível concluir a escavação, revelando a profundidade total do poço.

À esquerda, o poço localizado atrás da terceira coluna do Dólmen de Menga; à direita, vista do poço subterrâneo, com seus impressionantes 19,5 m de profundidade.
Ainda não foi possível comprovar a cronologia exata da abertura do poço; no entanto, acredita-se que tenha sido escavado em uma fase posterior à construção do dólmen, pois o peso combinado das imensas lajes de cobertura C4 e C5, somado à camada de terra sobre o terceiro pilar, seria teoricamente prejudicial à estabilidade do monumento e poderia ter comprometido a estrutura do poço — situado a apenas 80 cm de distância — caso este já existisse desde os tempos antigos. Assim, a abertura do poço não teria sido uma boa ideia para a estabilidade do monumento, sugerindo que é improvável que tenha sido perfurado pelos construtores originais de Menga, que possuíam excelentes conhecimentos de engenharia e arquitetura, construindo com tanta maestria tal monumento. Mesmo assim, a existência desse poço acrescenta mais uma singularidade ao monumento, pois é o único dólmen conhecido que possui um poço profundo de água no fundo da câmara.
Ficávamos caminhando lentamente pelo interior da galeria, observando aquelas enormes rochas e imaginando como foi possível posicionar cada uma delas. À medida que contemplávamos toda aquela estrutura, o Dólmen de Menga transmitia uma profunda sensação de espanto e assombro, devido ao seu tamanho e magnitude. É surreal o que os antigos arquitetos e engenheiros megalíticos realizaram há quase 6 mil anos, usando tecnologia supostamente “primitiva”.
É interessante ressaltar que, no artigo intitulado “Early Science and Colossal Stone Engineering in Menga, a Neolithic Dolmen (Antequera, Spain)”, publicado em 2024 — que explora as técnicas avançadas de engenharia de pedra utilizadas na construção do Dólmen de Menga —, os autores se mostram totalmente contrários à ideia de “primitividade” ou “rudeza”, que por muito tempo predominou na compreensão popular e científica sobre as sociedades neolíticas. As análises e evidências do conhecimento científico e das habilidades técnicas envolvidas na construção dessa monumental estrutura levaram os autores a considerar o Dólmen de Menga um exemplo excepcional de ciência antiga. Os responsáveis por essa monstruosa construção demonstraram possuir profundo conhecimento das propriedades e da localização das rochas disponíveis na região, além de noções de física, atrito, inclinação ideal de rampas, estimativa do centro de massa, capacidade de carga das rochas e outros princípios necessários para mover e posicionar as pedras gigantescas.
Além disso, o artigo destaca que o uso de pilares para sustentar as imensas rochas de cobertura, a incorporação de grande parte do edifício no leito rochoso — garantindo maior estabilidade e resistência a terremotos — e o encaixe dos montantes por meio de facetas laterais talhadas em ângulos semelhantes são características não observadas em nenhuma outra construção megalítica. Trata-se de um exemplo único de inteligência criativa e de ciência inicial entre as sociedades neolíticas, representando um projeto de engenharia completamente original, sem antecedentes na Península Ibérica. A conclusão é clara: esses ancestrais eram simplesmente muito mais inteligentes do que imaginamos. E há quem diga que, se algum engenheiro atual tentasse construir Menga usando apenas os recursos disponíveis há 6.000 anos, provavelmente não conseguiria.
Próximo ao Dólmen de Menga, a cerca de 70 m de distância, encontra-se o Dólmen de Viera, outro importante monumento que integra o Conjunto Arqueológico Dólmenes de Antequera. A estrutura é formada por um longo corredor retangular, com mais de 22 m de comprimento e largura que varia entre 1,30 m na seção inicial e 1,60 m na final, composto por lajes verticais paralelas que conduzem diretamente à câmara. Considera-se que cada lado do corredor deve ter sido originalmente formado por 16 lajes verticais, das quais 14 permanecem no lado esquerdo e 15 no direito, enquanto a cabeceira é composta por uma única laje. Sobre o teto, cinco lajes intactas estão preservadas, junto a fragmentos de outras duas; alguns pesquisadores especulam que havia mais três ou até quatro lajes de cobertura que desapareceram. A sua entrada foi restaurada, e a cobertura artificial de terra apresenta mais de 40 m de diâmetro e 4 m de altura.

À esquerda, a entrada restaurada do Dólmen de Viera; à direita, o início do corredor com os restos das lajes que constituíam a entrada original.
No final do corredor do Dólmen de Viera encontra-se uma câmara, acessada por uma pequena porta quadrangular. A altura média interna é de pouco mais de 2 m, formando um espaço fechado por quatro grandes lajes. A orientação longitudinal da câmara segue o eixo do corredor, que está voltado para o leste e alinhado com o nascer do sol durante os equinócios de outono e primavera, quando a luz solar penetra até a pequena abertura, iluminando o interior da câmara por alguns minutos.

À esquerda, o final do corredor que leva à câmara; à direita, a câmara do Dólmen de Viera.

À esquerda, a visão de fora para dentro do corredor; à direita, a visão do fundo do corredor para fora, alinhada com a direção do nascer do sol nos equinócios.
Permanecemos dois dias em Antequera para conhecer os três principais monumentos da região e o museu. No primeiro dia, como mencionado antes, chegamos já no fim da manhã de um sábado ensolarado, com diversos grupos de turistas fazendo fila para entrar nos dólmens. No entanto, como a maior parte desses turistas permanece pouco tempo no local, entre um grupo e outro tínhamos alguns momentos de tranquilidade, quase sozinhos, dentro dos dólmens. Depois de entrar e sair algumas vezes dos monumentos, finalizamos a nossa primeira visita conhecendo também o museu do Centro de Interpretação dos Dólmens de Antequera, onde permanecemos o resto da tarde até o fechamento do local.

O Centro de Interpretação dos Dólmens de Antequera, inaugurado em 2022, oferece exposições audiovisuais, painéis explicativos e maquetes que buscam ajudar a compreender a construção, o simbolismo e a história dos dólmens.
No dia seguinte chegamos, dessa vez junto com a chuva, minutos depois de o parque abrir suas portas pela manhã. Correndo da chuva, fomos os primeiros a entrar no Dólmen de Menga e, ao caminharmos pelo seu interior, fomos nos acalmando, contemplando sua contagiante atmosfera megalítica e tivemos a oportunidade de sentir um pouco do silêncio que ecoa lá dentro. No fundo do corredor em forma de galeria, com os blocos megalíticos imensos por cima e ao redor de nós, sentíamos uma profunda quietude, um silêncio antigo, com ar de mistério, que imediatamente intrigava a nossa imaginação.
Passamos a manhã toda entrando e saindo dos dólmens de Menga e de Vieira, contemplando tudo novamente e buscando perceber detalhes que não havíamos notado no dia anterior. Devido ao pouco movimento, provavelmente por causa da chuva, também tivemos a oportunidade de conversar com um dos colaboradores do sítio arqueológico, chamado Miquel Angel, que foi muito atencioso, simpático e fez questão de compartilhar detalhes e curiosidades sobre os monumentos. Depois desse momento empolgante de trocas e reflexões sobre essas fantásticas estruturas e seus mistérios, fomos novamente ao museu do parque dar mais uma conferida e rever algumas informações.

À esquerda, Victor, Adnir e Terezinha conversando com Miquel Angel; à direita, Miquel Angel e Victor próximo do local que se encontrava a quarta coluna da estrutura.
Em seguida, para finalizar o nosso tour, dedicamos igualmente atenção especial ao último local da nossa viagem, o elegante Tholos de El Romeral. Considerado o mais recente entre os monumentos vizinhos de Menga e Vieira, o Tholos apresenta um longo corredor e duas câmaras circulares consecutivas, conectadas por uma estreita passagem. É considerado um monumento de cúpula falsa, pois suas câmaras são cobertas por pedras dispostas em anéis sobrepostos que se fecham no topo, sem utilizar um arco ou abóbada verdadeira. A câmara principal tem cerca de 4 m de altura e 5 m de diâmetro. A segunda câmara, de tamanho reduzido, apresenta um diâmetro de 2,34 m e altura de 2,40 m. O teto do corredor é composto por grandes lajes horizontais, e as paredes inclinam-se suavemente para o interior; as grandes lajes verticais, que se veem nas outras construções, são substituídas neste caso por pequenas pedras.

Entrada do Tholos de El Romeral e a sua cobertura de terra que o cobre, com cerca de 75m de diâmetro.

À esquerda, a vista interna do corredor; à direita, a elaborada porta de entrada que conduz a câmara principal.

À esquerda, a vista da câmara principal e ao fundo a entrada da segunda câmara; à direita, a vista da segunda câmara através da estreita porta, e, ao fundo um espelho convexo colocado para os visitantes observarem o teto e o entorno da câmara.
Depois da visita ao Tholos de El Romeral, nos despedimos daquela paisagem megalítica de Antequera, com a Peña de los Enamorados destacada no horizonte, e pegamos a estrada em direção a Lisboa. Na verdade, nosso plano original, antes de retornar direto para Lisboa, era fazer mais uma parada em Trigueros, município da Espanha, para conhecer o Dólmen de Soto; porém, o local infelizmente estava fechado para manutenção justamente nos dias em que pretendíamos visitá-lo. Assim, finalizamos a nossa jornada pelos monumentos megalíticos da Península Ibérica, completamente satisfeitos por cada momento que vivenciamos.

Sol e chuva em Antequera. À esquerda, Adnir, Terezinha, Victor e Vicky em frente ao Dólmen de Menga; à direita, a última vista de La Peña de los Enamorados, o monte de aparência antropomórfica.
Apesar do cansaço de visitar de 6 a 9 lugares por dia, entrar e sair do carro inúmeras vezes, carregar mochilas, trocar de hospedagem quase diariamente, fazer e refazer malas e dormir pouco para acordar antes do nascer do sol, a experiência foi simplesmente maravilhosa e profundamente enriquecedora. Inspirados pela força ancestral daqueles povos que moveram imensas rochas, sentíamos uma disposição megalítica. Nossa rotina consistia, literalmente, em ir de um lugar magnífico a outro, deixando para trás paisagens intrigantes para explorar novos cenários fascinantes várias vezes ao dia, durante 11 dias seguidos! Foi uma loucura… porém, saudável, intensa e inesquecível.
Foram mais de 2.700 km percorridos, visitando no total 67 monumentos! Essa vivência foi também um profundo exercício mental e um desejo quase mágico de querer voltar no tempo. A cada local que explorávamos, nossa mente era instigada a interpretar e imaginar as cenas que um dia aconteceram ali. Era impossível não refletir sobre como e quando aqueles povos ergueram tais construções, o que os motivou e de que forma utilizavam esses monumentos. Tudo isso alimentava intensamente nossa imaginação. Passávamos o dia inteiro conversando e refletindo sobre essas questões e, até mesmo ao dormir, quando fechávamos os olhos, ainda víamos menires e dólmens desfilando em nossa mente.
As chamadas “civilizações dos megálitos” foram realmente extraordinárias, e muitas vezes nos fazem pensar que estiveram muito à frente do seu tempo, realizando obras fenomenais nunca antes vistas, que ainda hoje desafiam o conhecimento do ser humano moderno. É intrigante pensar por que povos tão antigos, aparentemente arcaicos, sem recursos suficientes, escolheram realizar tamanhas obras de engenharia, tão difíceis, com precisões geométricas e astronômicas. Não podemos pensar simplesmente em povos primitivos e incultos que arrastavam pedras enormes só porque não restava mais nada para fazer, ou porque estavam “alucinados” por alguma crença qualquer; pelo contrário, pode ter havido ideias bem mais sofisticadas ou complexas em suas crenças do que podemos imaginar.
A edificação desses megálitos demandou uma grande força de trabalho e logística, além da aplicação de técnicas de engenharia avançadas e de conhecimentos arquitetônicos em construção de pedra que nunca haviam sido alcançados antes. Os megálitos simbolizam a forma mais antiga de arquitetura monumental em pedra. Essas construções certamente incorporavam profundas mensagens sociais e ideológicas, sendo utilizadas por vários milênios. Podemos considerar os monumentos megalíticos como um dos fenômenos mais duradouros e fascinantes da história humana, que nos estimula a pensar em uma crença na eternidade — uma eternidade não de matéria, mas de alma e espírito.
Assim, após tantas reflexões, retornamos a Lisboa, carregando a memória de todos aqueles dias incríveis. Pouco tempo depois, Adnir e Terezinha seguiram visitando mais alguns sítios arqueológicos pela Espanha. Já eu, Victor, e a Vicky ainda tínhamos também mais uma experiência inesquecível pela frente: pegar um voo para Londres e conhecer o tão sonhado e enigmático Stonehenge, e os monumentos megalíticos de Avebury, na Inglaterra, mas essa já é outra história.
Obrigado por chegar até aqui e explorar conosco esses fantásticos monumentos megalíticos da Península Ibérica!
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