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Comentários sobre a Arte Rupestre – A. Seixas Neto
5 jan
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Comentários sobre a Arte Rupestre – A. Seixas Neto

A. Seixas Neto

[Nota: este artigo foi escrito em 1972 e mostra apenas a opinião do pesquisador A. Seixas Neto e não necessariamente do IMMA. O objetivo de divulgar este artigo é para mostrar a diversidade de opiniões a respeito do assunto. Os trechos em negrito estão de acordo com o texto original]

Iniciando, houve, no lugar geográfico da América do Sul, hoje denominado “Nordeste Brasileiro”, na Humanidade de Vênus, uma altíssima Civilização. Mas que Civilização fôsse ninguém sabe ainda, porque as pesquisas muito especializadas aos padrões atuais, que subdividem a Cultura em picadinho, não têm amplitude para ver o todo;depois a metodologia que se usa em várias partes do mundo para êste tipo de trabalho segue um absurso unitarismo no picadinho das especializações. Dêste modo, não pode ver uma cousa distinta e altamente lógica que, em verdade, é o trabalho das inscrições rupestres. As inscrições rupestres e isto é certo, no meu entender, – que não sou especialista, sou é de ver o todo -, não são obra de alta cultura; são obra de curiosos; são simúlacros do que existiu. Não há mor bobagem que nomeá-las “obra de arte”; seria o mesmo que tomar o tradicional registro dos namorados por dinstintivo da cultura duma raça, dum povo; e o  registro dos namorados é nada mais nada menos que coraçõesinhos, setas cupídicas e nomes gravados a canivetes de picar fumo, cortadores de unha, pregos, o diabo a sete, em cascas de árvores, às noites românticas de Lua; depois, conheço até uma das obras culturais gravada em pedra de praia por amoroso desocupado feita a ponta de talhadeiras de tirar ostra. Mas fica prá lá. Tôda inscrição rupestre é obra de simúlacro, realizada por pessoas menos instruídas que se dão a êste esporte, como uma derivação da Mente. Então ha que definir: Arte laudatória dos Monumentos, – tão cultivada, por exemplo, na Babilônia; no Egito -; inscrições ordenadas, como nas tijoletas de registro ao modo Xumério;por fim inscrições de simúlacros, pelas pedras desparramadas. Estas últimas não dizem, efetivamente, nada; simplesmente anotam curiosidade imitativa. Querer interpretá-las, querer lê-las dentro d’uma rotina logística não passa de bobagem ou de empulhamento. Essas inscrições rupestres têm que ser estudadas como simúlacros; e os simúlacros são imitações muito próximas da realidade, todavia sem minúcias intelectualizadas. Por isto, são páginas menos falsas do Livro de Pedra da História da Terra. Como a tendência do homem é imitar o que existe, quando não pode ou não sabe fazê-lo, essas inscrições rupestres encerram grandes verdades que merecem análise. E, por isto, o pesquizador [sic] tem que encarnar o estado mental do gravador, para entendê-lo. Mas vamos ao assunto: Houve uma Civilização, na Humanidade de Vênus, que viveu no Nordeste do Brasil e ali seus homens menos cultos gravaram nas pedras e nas grutas, curiosamente, os simúlacros do que existiu. Todo o sistema altamente culto e, por isto mesmo, frágil perante as catástrofes foi destruído. E tanto isto é verdade que todo o acervo notabilíssimo das mais próximas Civilizações sumiram sem deixar rastro. Até do Império Romano, que foi ontem, na História dos Tempos, pouco deixou, e isto mesmo por constante repetição e notícia; pouco existe de original; não faz dois mil anos que o Império Mundial deu com os burros nágua; e não foi por catástrofe, foi por burrice, desleixo, estupidês dos seus viventes. Vai daí há mais segurança de informação no simúlcro dos gravadores curiosos…

Mas, agora para não alongar muito, convém dizer que os Arqueólogos, não dedicados às pesquisas Cosmológicas e Astronômicas, profundamente ligadas às ações humanas, mas simplesmente trabalhando na rigidez dos seus achados, fizeram uma enleada desgraçada de tudo, o que impede uma análise mais regular, mas lógica, mais apreciável. Misturaram inscrição rupestre com gravura artística, traçados com imagens, sem levar em conta o fato de que inscrição rupestre era como que amadorismo ou curiosidade e não obra definida.

[…]
Mas há, além dos monumentos líticos, gravuras ditas rupestres. Pois há uma verdade lógica, precisa: Essas gravuras rupestres, onde existam, não são mensagens nem têm objetivo determinado. Ninguém, em bom senso, pode esperar nelas mensagens, diagramas, comunicados. Nenhum povo, por mais vaidosos que fôssem seus dirigentes, por mais superiores que fôssem suas castas, por mais poderosas que fôssem suas sociedades, mandaria inscrever rupestremente, sem ordem e sen [sic] enleamento lógico, os grandes blocos de pedra à superfície ou os emparedamentos das cavernas. Depois, as inscrições em monumentos trabalhados artìsticamente cumpriram bem as duplas funções de totem e de mensagem, nunca, porém, tendo em vista um Futuro distante, mas erigidos e dirigidos para os dias de cada época, de cada govêrno, de cada dinastia. O que ocorre, em verdade, e já o referi em diferentes estudos, é que as inscrições rupestres são simples derivações artrísticas de indivíduos imaginosos e curiosos, tentando repetir fatos atuais em seus dias e que gravaram fundo em sua Mente ou, ainda, a exibição de capacidade curiosa  perante uma família, um grupo. E para exemplo disto, vale dizer que isto ocorre ainda em várias formas: Sei, por exemplo, de um pai que zela cuidadosamente um abacateiro porque, no tronco, faz muitos anos, seu pequeno filho gravou, brincando, a canivete, a grotesca figura dum gato e algumas letras esparsas com um A virado para baixo, um S e um N gravados ao contrário. Foi, para êle, um dia, primício da arte infantil do filho e hoje uma lembrança; não é mensagem nenhuma, nem traz nenhum recado. Outro fato muito significativo do que digo é, hoje, histórico em minha cidade: Os pés de São Luiz gravados na Pedra; também por muitos, e nisto corre legenda e é tradição, considerado de Francisco Dias Velho, o povoador da Ilha de Santa Catarina, que teria, ali naquele ponto, desembarcado e a pedra cedido à forma das plantas de seus pés. Pois muito certo. Como ali na Praça Dias Velho, primitiva. – (hoje em parte demolida para passagem da Avenida Beira Mar) -, havia uma fortaleza ou fortim, um dos soldados, com habilidade artística de gravador, pacientemente modelou na pedra, em dois lugares distantes uma passada de gigante, – uns três metros -, seus próprios pés, em gravação funda de um centímetros na parte do calcanhar. Fotografando, por volta de 1942, para uma memória histórica, percebi uma ocorrência notável: Pela inclinação da pedra, os pés ficavam em ângulo de elevação de uns quarenta graus; dava a impressão que todo o pé caia justo e certo dentro da gravação, fÔsse pé adulto fôsse pé infantil. E daí a legenda de mistério. Em lugar de admitir que fôssem os pés de Dias Velho, ou de São Luiz, devido o nome do Jardim da Praça, os naturais poderiam ter elaborado uma lenda das passadas de misterioso gigante. E há outras inúmeras gravações curiosas. Mas isto é típico no Ser Humano: Deixar a sua marca, a história da sua personalidade gravada de modo a gerar notícia ampla em seu meio. é comum, e até uma atração, qualquer garoto e mesmo pessoas de mór juizo, deixar marcas de pés, mãos, npumeros, gravados em cimento não endurecido nos passeios, estradas, construções. E, acaso, tem isto alguma notícia pré-estabelecida para o Futuro? Não! E quantos milhões de casos iguais existem na superfície da Terra! Mas há que ponderar, e isto os colecionadores de inscrições rupestres ou figuras artezanais [sic], por certo, esquecem: Tôda fguração de arte curiosa traz uma mensagem, mas não mensagem pré estabelecida à maneira de recado para o Futuro; traz a mensagem da figuração do que existe no momento do artista, porque o artezão [sic], o artista repetidor, não tem os chamados vôos criativos de imaginação; o que êle faz, diligentemente, é esforçar-se para repetir o existente, o que vê, o que admira, dando, com isto, prova de valor perante os seus contemporâneos. Desta maneira, de modo amplo, tôdas as figurações rupestres são imagens grosseiras de comportamentos, atos e cousas existentes; por isto, de tão simples, são difíceis de “ler”. Os exemplos dados são para situar o problema. Assim, um estudo minucioso, imparcial, capaz, das inscrições rupestres e das formas artezanais [sic], – são como que espécie de registro autônomo -, muito notícia poderia dar sôbre o estado cultural das Humanidades nas suas mais diversas Civilizações. Por contrário, as obras ditas artísticas, seguindo cânones-básicos ou escolas de padronização, não podem dizer muito porque, primordialmente, cuidam de situar totens de crença e de filosofia, notícias de podereosos dominantes, feitas conforme os seus gostos, e ocorrências de ordem celestes, marcando êsses mesmos comportamentos.



BIBLIOGRAFIA:

SEIXAS NETO, A. Nem Deuses Nem Astronautas, 1972.